Etiene ~ @antologiapessoal 27/01/2021
Inesquecível leitura!
É, eu preciso encarar o fim.
O fim do amor, da vida, de um ciclo, o fim - também - de um livro. Passei bons quinze dias evitando pensar em Briony, Cecília e Robbie, evitando reviver essa história, evitando novamente senti-la e sofrê-la. Eu acho que é um pouco como a dor da metamorfose, sabe? Aquilo que se altera, tende a doer no processo. Recordar minhas convicções antes de ser tocada por essa obra e pensar nelas depois, percebendo como me tornei analítica, é sucumbir ao poder transformador dos livros .
Reparação, escrito mais famoso de Ian McEwan, é construído em torno de uma criança que deseja ser escritora e desemboca num drama de amores impossíveis extremamente sensível e envolvente. Nunca briguei tanto com um livro! Um dos melhores detalhes da narrativa é a troca de perspectivas entre os personagens: a história vai sendo contada linearmente, mas fragmentada sob a ótica de cada um. É mágico ver tudo se encaixando onde a cena anterior termina e a seguinte começa. O livro, dividido em partes, carrega na terceira momentos vívidos da Segunda Guerra Mundial. Aqui comprovei como a arte escrita tem potência para ser inclusive sensorial. Mesmo agora, relembrando, consigo sentir os cheiros, as cores, os sons de cada palavra lida. Algumas páginas me marcarão eternamente.
Comecei essa leitura de modo inocente: fui enlaçada por um romance apaixonante nos anos 30, pela revolução que causa o primeiro amor numa garota de berço. Termino com a sensação de ter vivido o terror e o desamparo de uma guerra e de ter vivido um amor avassalador e inabalável, um amor com o poder de trazer de volta o que tinha que ser seu. Mas, minha gente, nada poderia ter me preparado pro rebuliço causado por esse final. Chorei feito um bebê, mais de uma vez. Devo ter chorado por motivos clandestinos, que esperavam essa fresta pra jorrar. Doloroso alívio então? Não sei.
Logo eu, dada a grifos e pausas em leituras, entrei nestas derradeiras páginas precisando apenas dar vazão aos sentimentos no meu peito: tristeza, indignação, impotência, raiva! Se meu papel aqui é deixar impressões e recomendar livros, reitero que Reparação é daqueles que definem um momento do leitor e que ficam para sempre na memória.
"A partir desse ponto de vista novo e íntimo, ela aprendeu uma coisa simples e óbvia que sempre soubera, e que todos sabiam: uma pessoa é, acima de tudo, uma coisa material, fácil de danificar e difícil de consertar."