Luiz de França 25/07/2023
A linguagem pode ser arcaica, mas a sua mensagem é eterna.
Li "Úrsula" como parte de um clube do livro e a leitura me surpreendeu bastante. De início, é comum ficarmos relutantes em prosseguir pela linguagem mais arcaica (afinal, o livro foi publicado originalmente em 1859). Porém, percebemos que a estrutura da história é simples e, pelo menos na versão que li, tinha definições e detalhes em pontos cruciais que facilitaram o entendimento.
É interessante ver como Maria Firmina dos Reis foi estratégica ao escrever um livro com temática tão comum (um relacionamento entre pessoas brancas), mas com uma mensagem abolicionista tão poderosa. Mesmo nas entrelinhas, afinal só assim que ela deve ter conseguido publicar naquela época, a mensagem que ela passa é clara e eterna. A crueldade que a população preta sofreu nos tempos de escravidão foi algo absurdo, e ajuda a entender o porquê do preconceito racial durar tanto e permanecer em nossas vidas após séculos. Além disso, é visível a influência do Romantismo (escola literária em alta naquela época) na construção da história, principalmente pela noção de tristeza e tragédia pelo amor.
Por fim, para quem está no começo da leitura e pensa em parar por causa da linguagem mais arcaica, aconselho a prosseguir sem pensar muito nisso. Aposto que, com o tempo, a leitura fica mais fluida e você se acostuma com as palavras, mesmo que não as use no dia a dia. Você pode se encantar com o brilhantismo que é "Úrsula" e Maria Firmina dos Reis.