Giselle 21/06/2021
A literatura dos silenciados
O romance, considerado o primeiro escrito por uma mulher e o primeiro romance abolicionista brasileiro, foi publicado na década de 1860 sob o pseudônimo de “Uma Maranhense” e redescoberto só nos anos 1970.
A obra ultrarromântica começa quando Tancredo, um jovem branco e de classe alta, é resgatado por Túlio, um homem negro escravizado, após um acidente. Tancredo é levado para a casa da senhora de Túlio, onde o jovem recebe cuidados de Úrsula, filha da senhora, e se recupera. Após sua recuperação, Tancredo compra a liberdade de Túlio como recompensa, e os dois se tornam amigos, ao mesmo tempo em que Tancredo e Úrsula declaram sua paixão mútua e se tornam noivos.
A partir desse ponto, o casal, símbolo da pureza e da castidade, vê seus planos de felicidade arruinados pela crueldade humana, que assume a forma de um homem branco que se utiliza do seu poder e sua impunidade em uma sociedade escravista e patriarcal para ver sua vontade sendo feita.
Maria Firmina dos Reis dá voz ativa a dois heróis negros escravizados que, apesar de não possuírem uma mentalidade revolucionária - uso, como exemplo, os heróis de romances contemporâneos, como Torto arado -, já se faziam revolucionários ao relatar a forma com que foram arrancados de suas vidas, de sua terra natal e de suas famílias para serem jogados em um navio e, mais tarde, serem comprados e escravizados, e tudo o que sofreram nesse processo nas mãos dos brancos que tentaram, a qualquer custo, desumanizá-los.
Para mim, o enredo principal da obra - o romance entre os jovens - não foi tão interessante e por vezes cansativo. No entanto, isso não diminuiu, de forma alguma, o valor da obra para mim. Sua própria publicação, feita por uma mulher negra e maranhense, excluída do meio letrado dominado por homens brancos da elite, foi um ato de desafio e insubordinação, o que, por si só, faz da obra um grande marco na história brasileira e uma leitura obrigatória.
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