spoiler visualizarCamilla.Steban 01/05/2022
Clássico
Lucíola é um desses clássicos que não dá para não ler. Uma grande obra da literatura brasileira e um desses livros que, se tu ainda não leu para escola/faculdade, ainda vai ler.
Por se passar em uma época bem diferente da de hoje em dia, muita coisa precisa ser levada em consideração. A constante subserviência de Maria da Glória (a.k.a. Lúcia) com Paulo, por exemplo, foi uma coisa que me irritou bastante, algo que seria aceitável na época é completamente absurdo hoje em dia.
Contudo, mesmo ainda mantendo alguns pensamentos retrógrados da época, Lucíola não deixa de ser um livro revolucionário. Uma literatura de folhetim urbana, a obra retrata o romance entre Paulo, um homem da sociedade, com Lúcia, uma prostituta. José de Alencar questiona durante o livro, mesmo que de forma tímida, os motivos que Maria da Glória entrou no universo da prostituição e o abuso que ela sofreu nas mãos dos homens que passaram por sua vida.
Lucíola ainda é marcado por uma constante valorização da mulher virgem e casta, rebaixando mulheres que, como Lúcia, possuíam vida sexual. Paulo tenta, durante quase toda a narrativa, ver Lúcia como algo que ela não é, e muitas vezes humilha-a por ser cortesã, transferindo-lhe toda a culpa.
Maria da Glória, uma personagem extremamente complexa e cheia de nuances, deve ser analisada com muito cuidado. Durante toda a narrativa, quem narra é Paulo, que ainda é cheio de preconceitos da época, portanto a visão de Lúcia da história nunca é contada. Ela é descrita no início como cheia de manias, fria, volátil e um grande destaque é dado a sua beleza. Contudo, a medida que Paulo começa a desenvolver sentimentos por ela, isso muda muito.
Aqui cabe uma reflexão sobre como a maneira com que vemos alguém é um reflexo dos nossos sentimentos por essa pessoa. Aquela colega de trabalho fica incrivelmente mais feia depois que te dedura para a chefe, o mesmo é percebido em Lucíola. Quando Paulo está com ciúmes, Lúcia é uma devassa, quando os dois brigam, ela é temperamental e quando estão em uma fase boa, a cortesã é descrita como doce, virginal e pueril. Esse conflito de descrições de Maria da Glória se dá principalmente pelo fato de o livro ter narrador único do tipo personagem, nos dando apenas um lado da história.
Mesmo assim, o livro quebra barreiras ao retratar o amor entre uma cortesã e um bacharelado. A linha romântica da época que retrata um amor forte capaz de vencer qualquer obstáculo é facilmente percebida, fazendo dessa obra um grande exemplo da Literatura Romântica de Folhetim.
Recomendo fortemente Lucíola e acho que é um desses clássicos que todo o brasileiro tem que ler. Contudo, é uma obra que deve ser lida com cuidado e consciente do contexto histórico em que se passa e dos valores e preconceitos dessa época. O mesmo livro que, quando escrito, foi revolucionário, hoje pode ser considerado extremamente retrógrado e preconceituoso.
Steban, Camilla
06/09/2021
site: https://livrosmillasteban.blogspot.com/