Atenasis 20/10/2023
Onde aprender a odiar para não morrer de amor?
Devo dizer que esse foi o segundo livro que li de Clarice. Ganhei de natal ?perto do coração selvagem? e, sinceramente, a leitura não me foi agradável.
Não esperava ler outro livro dela tão cedo, mas a escola me proporcionou a oportunidade com a leitura do bimestre sendo ?Laços de Família?.
Sinceramente, também não me foi agradável pois, claro, Clarice não é feita para ser. Contudo não me conectei ou gostei da leitura, me foi frustrante ter de ler até o final e talvez tivesse desistido se não fosse os trabalhos e meus amigos.
Fico muito feliz de não ter desistido, pois os dois últimos contos me surpreenderam muito positivamente e eu os venero.
?O crime do professor de matemática? mostra o pesar que todos temos sobre algo e nosso desejo não tê-lo feito, ou de ser diferente. A busca pelo ?não havia outra opção?, buscar fazer algo pior para encobertar o ruim, embora no fundo nada supere. ?Buscar pagar a dívida que inquietamente ninguém cobrava? a não ser você mesmo.
Sei que os contos de Clarice não são focados na história, mas sim no pensamentos, mas careço de muitas vezes entender isso. Grande parte dos contos me deixou frustrada por enrolar e mostrar a vida dos personagens, ter a epifania e não fazer nada, simplesmente nada no final. Não quero que as coisas do cotidiano me atinjam e eu não faça nada sobre, não esteja em constante mudança e não seja afetada.
Sei que Clarice faz isso em busca da crítica, mas que crítica é essa que não busca a mudança? Ela reafirma a falta de iniciativa em abraçarmos as epifanias da vida, mas sem criticar esse fato e sim confirmá-lo. Isso me deixou estritamente frustrada, fora nos contos em que de fato acontece alguma coisa. Nós últimos contos finais.
O búfalo foi o melhor. A tensão da personagem e sua dificuldade de expor seu sentimentos e justamente o que fazer me fez ficar absorta na leitura de uma forma que nenhuma história da Clarice havia feito.
?Deus me ensine somente a odiar?
?Eu te odeio, diz ela para um homem que cujo crime único era o de não amá-la.?
?onde encontrar o animal que lhe ensinasse a ter o seu próprio ódio??
e ela encontra. Ela encontra dentro de si esse animal, por isso não acho que tenha tipo um espasmo ou algo do tipo, mas se matado com a própria adaga, visto no búfalo o seu amado, a falta do amar, e então se entregado para o vazio completo em busca de um preenchimento.
De fato dou 5 estrelas para este conto, mas infelizmente não para os contos no geral, estando na minha crueza hipocrita e leiga da literatura.
Dou então 3,5 sendo o livro não ruim, mas legível que não leria novamente. Agora búfalo, búfalo sim é o conto genial e insuperável que lerei mais vezes em minha vida buscando entender seus diferentes significados.
Meu professor disse que ele seria o mais difícil, mas não acho. Acho que o mais difícil é a vida.