Ana 31/12/2020
Não sei vocês, mas eu acredito muito em acasos. E resolvi falar isso nessa resenha porque The Outsiders veio para mim por puro acaso. Ele já foi lançado há um tempo, mas não tinha chamado minha atenção, e olha que várias pessoas que eu acompanho nas redes sociais estavam falando sobre ele. Na verdade, sendo bem sincera com vocês, solicitei porque não consegui pensar em qualquer outro livro que eu fosse gostar pelo menos um pouco — sim, eu estava muito amarga em novembro, rs. Então, foi por acaso, despretensiosamente que resolvi dar uma chance para esse livro... E me apaixonei por ele.
S. E. Hinton tinha apenas 15 anos quando começou a escrever The Outsiders, no final da década de 60. Após seu amigo levar uma surra memorável de alguns garotos boa pinta, ela ficou tão brava com a violência entre os Greasers e os Socs, grupos rivais que são divididos por condições socioeconômicas, que resolveu colocar tudo para fora. E foi assim que surgiu a gangue de Ponyboy Curtis, um adolescente órfão que vive com os dois irmãos mais velhos no lado pobre e marginalizado da cidade. Assim, digamos que os Socs eram os playboyzinhos mimados que se achavam donos do mundo.
Acho que justamente por ter sido escrito por uma adolescente, o livro passa uma atmosfera muito real e honesta. E muito provavelmente por isso é o livro favorito de tantos jovens, porque a autora humaniza seus personagens através dessa narrativa sensível. Porque pensem bem, é o retrato da sociedade, né? Crianças e adolescentes pobres, que não têm apoio nenhum, muito menos uma vida estruturada, que são obrigados a amadurecer rápido demais porque não têm outra escolha. E tem gente que tem coragem de falar em direitos iguais para todos.
Apesar de falar sobre um tema delicado e difícil, a leitura desse livro não é nada complicada. A linguagem é super acessível e a trama segue uma cadência muito boa, então, o que a gente mais quer é terminar logo para saber o destino dos personagens. Inclusive, não demorei muito para perceber o potencial cinematográfico dessa história, que foi imortalizada por Coppola em 1983. Até porque, para mim, mesmo com tamanha violência que é muito bem retratada, o tema principal de The Outsiders é o conceito de família.
Alguns dos meninos já não têm mais os pais, como é o caso de Ponyboy e seus irmãos, Sodapop e Darry... Outros, como Johnny Cade e Dallas Winston, têm pais que não ligam para eles, para não dizer coisa pior... Mas ainda assim eles têm uns aos outros, sabem? Hinton foi muito feliz ao mostrar que nem sempre o sangue é o que estabelece os laços familiares e sim o amor, companheirismo, confiança... É muito bonita a relação entre todos os personagens, até aqueles que a gente julga como valentões — sim, que a gente teima em achar que não sente nada e que não ama ninguém.
Uma coisa bem interessante da edição da Intrínseca é que ela traz várias informações e curiosidades sobre a obra. Por exemplo, vocês imaginariam que S. E. Hinton é uma mulher chamada Susan que teve que esconder seu verdadeiro nome porque a editora teve medo de os críticos pensarem que uma menina não teria capacidade de escrever uma história como essa? É bem triste que tenhamos que esconder nossa identidade por causa do machismo, né? Mas Susan conta que, apesar disso, gostava da privacidade de ter um nome público e outro privado, principalmente quando seus livros começaram a ficar famosos.
Além disso, no final, existem algumas páginas dedicadas aos bastidores do filme, com fotos bem bonitas e depoimentos dos atores que deram vida aos meninos, como Ralph Macchio (Johnny) e C. Thomas Howell (Ponyboy). Howell contou, inclusive, que até hoje as pessoas o chamam de Ponyboy, incluindo seus amigos e familiares, de tanto que o personagem marcou a carreira dele.
The Outsiders é uma obra prima. Sua forma única de falar sobre o processo de desenvolvimento de personalidade que passamos na adolescência faz com que o livro seja, realmente, um clássico; os tempos mudam, mas as situações, pelo menos grande parte delas, continuam as mesmas. Não é por acaso que muitos críticos consideram essa história uma das percursoras do gênero jovem adulto que tanto amamos nos dias de hoje.
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