Ari Phanie 04/09/2022"Eu amava Deus, sim, mas detestava esse livro que ele abria para dizer sim e não."
São pouquíssimos os autores que conseguem me motivar a ler suas continuações em pouco tempo. Eu não tenho esse hábito e é raro uma história me ganhar ao ponto de eu retornar ao mundo desta em poucos meses. Os únicos que conseguiram tal proeza foram Stieg Larsson, Carlos Ruiz Zafón, George Martin e S.A. Chakraborty, e agora também a Christelle Dabos. E normalmente quando isso acontece é porque o autor conseguiu penetrar a minha pele. Com Noivos do Inverno, a Dabos conseguiu isso, mas foi com Desaparecidos em Luz da Lua que ela conseguiu conquistar meu coração.
No primeiro volume de A Passa-Espelhos minha cabeça dava um nó a cada capítulo que eu lia. Eu não entendia que tipo de fantasia era essa que misturava mitologias e elementos tão diferentes. E não entendia o mundo se formando na minha frente. Era estranho, diferente e super interessante. E a autora me jogou nesse mundo sem me explicar nada e isso me exasperou, mas também ativou a minha curiosidade. E além desse mundo bizarro e incrível, a Dabos criou uma penca de personagens notáveis e incomuns. Isso só no primeiro livro; para o segundo ela tinha muitas outras surpresas reservadas.
Esse segundo volume começa praticamente onde o primeiro terminou. É chegado o momento de Ophélie enfim ser apresentada à corte e ao tal espírito familiar, o Senhor Farouk, um tipo de deus. E com essa apresentação mais problemas surgem para ela. E além dos problemas, a iminência do casamento de Ophélie com Thorn, e a chegada da sua família acrescentam mais peso à vivência da nossa querida e atrapalhada protagonista, além dela se ver de repente metida no misterioso desaparecimento de cortesãos.
À medida que a história avança algumas daquelas perguntas do primeiro livro são respondidas, mas surgem umas mil novas. A Dabos construiu um mundo ao estilo boneca russa. Você desvenda uma camada do bagulho e dentro dele tem mais uma camada novinha saindo do forno para você. A história já tinha um grau de complexidade que passou a ficar maior. Posso dizer com tranquilidade que esse é um dos melhores e mais criativos mundos já criados, com um sistema de magia singular e muito interessante.
Quanto aos personagens em si, houve um desenvolvimento palpável. Ophélie não é mais a garotinha ingênua e inexperiente do começo da história, e teve que se endurecer um pouco mais nesse segundo volume, mas sem deixar de lado as características com as quais ela conquistou o leitor. Já sobre Thorn (meu neném) ele continua a ser bastante misterioso e se manter na personagem fria e distante que aparece desde o começo, mas nesse volume consegue-se descobrir mais e enxergar lados dele não tão aparentes no primeiro livro. Os dois continuam a fazer um par improvável que eu amo. Quanto aos outros personagens, todos continuam muito característicos e críveis, mas nesse segundo volume, alguns deles ficam mais de lado porque o plot é mais focado em Farouk, seu misterioso livro e suas misteriosas lembranças. No entanto, alguns outros personagens também chamam bastante atenção e o destino de alguns outros surpreende.
Para finalizar: eu tinha altas expectativas acerca dessa continuação e felizmente, elas foram atendidas. Foi lindo ver como a história se desenvolveu, e bastante surpreendente porque eu tinha certeza que o negócio ia para um lado e as coisas que aconteceram foram para um caminho totalmente inesperado. Fui pega de surpresa por aqueles cliffhangers e não vejo a hora de descobrir mais do que essa história maravilhosamente bem escrita e desenvolvida me reserva.