Paulo Sousa 15/03/2020
livro lido - Inimigo do povo
Título lido: Inimigo do povo
Título original: En folkefiende
Autor: Henrik Ibsen
Tradução: Pedro Mantiqueira
Lançamento: 1882
Esta edição: 2011
Editora: L&PM
Páginas: 176
Classificação: 3/5
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"Que sentido têm as verdades proclamadas pela massa, massa esta que é manobrada pelos jornais e pelos poderosos?? (Posição no Kindle 2173/68%)
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Esta foi uma leitura que, apesar de literária, fi-la com objetivo acadêmico, devido a um trabalho para a faculdade. Por ser tão interessante e instigante, resolvi incluí-la nestes meus modestos registros de leituras.
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?Inimigo do povo? é uma peça teatral escrita pelo dramaturgo e escritor norueguês Henrik Ibsen, no final do século XIX. É um título que chama a atenção, sobretudo no meio jurídico (e não menos para o leitor que busque livros com ensinamentos) pela ressonante querela que traz abordando o conflito entre o individual e o coletivo.
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O enredo mostra a forma como a população de uma pequena cidade norueguesa, detentora de um balneário muito procurado por pessoas doentes que buscam tratamento, transforma o único médico local - e funcionário do balneário - de cidadão honrado a um execrado persona non grata. Isso porque ele, Thomas Stockmann, emitiu parecer desfavorável à qualidade das águas do balneário, que descobriu estarem contaminadas pelos muitos curtumes que circundam a cidade.
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Obviamente que o desagrado da população foi aproveitado de forma inteligente pelos detentores do poder de manipulação da opinião pública, preocupados com a perda do lucro do balneário, neste caso o prefeito, que é irmão do próprio Stockmann e a imprensa local que, uma vez antevendo o profundo colapso para o turismo caso o relatório do dr. Stockmann viesse ao conhecimento, buscaram primeiro dissuadi-lo, sem sucesso. Começam, então, um movimento de difamação ao médico, que ganha força com a adesão da manipulada população da cidade inteira. Stockmann perde o emprego, a casa onde mora, o apoio de todos, à exceção de sua família e do capitão Horster, mas terá de lidar ainda com o furor da massa manipulada, a quem, com um discurso pungente no fim do livro, tenta abrir os olhos...
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O livro em si, peça teatral formada por cinco atos, pode ser considerado um puro exercício político, engajado, um enfrentamento individual a uma coletividade obliterada da verdade e cegada pela ideologia, objetivando melhorar a condição sui generis e das instituições. Ibsen, de quem nunca havia lido nada, conduz muito bem os diálogos, gera no tempo certo o ápice de um crescente suspense e amealha com as palavras contundentes e indignadas de Stockmann esta pequena obra teatral e porque não poética. A maior lição? Há esperança sempre, mesmo em tempos tenebrosos, como estes que vivemos.