Luci Eclipsada 23/06/2011
Retrato da sociedade brasileira
Em o Cortiço (Aluísio Azevedo - Martin Claret - 232 páginas), os preceitos naturalista são utilizados para contar, antes de tudo, a história dessa habitação coletiva muito típica no século XIX, em que moradores de diversas etnias convivem num misto de pobreza e choques culturais que culminam, consequentemente, para a própria degradação humana, uma vez que os moradores do Cortiço acabam sendo influenciados pelo meio em que vivem.
Nesta perspectiva naturalista, O Cortiço, dentre vários aspectos que engloba, trata a questão da exploração do homem pelo homem, afinal, João Romão, dono do cortiço, enriquece a custa da exploração de outras pessoas. Ainda sob essa perspectiva da exploração do homem, há a relação sociológica entre os portugueses e os brasileiros, onde o primeiro grupo etnológico explora o segundo que aqui é visto como sendo inferior e, porque não mencionar, degradante.
Além disso, a questão do sexo é fortemente evidenciada como sendo algo puramente animal e destruidora do caráter das pessoas, exemplo disso é a transformação que ocorre na personagem Pombinha, que acaba como prostituta no final da obra quando descobre que através do sexo pode ter realizado seus desejos mais profundos e até então desconhecidos.
Outro ponto que chama a atenção em O Cortiço é o espírito de coletividade que une as classes nos momentos mais críticos, como quando a polícia invade o cortiço, assim, as divergências são postas de lado quando as pessoas sem veem ameaçadas.
Em relação aos personagens da trama, pode-se dizer que todos se interligam de alguma forma, apesar de poderem ser classificados em grupos, como, por exemplo, o próprio cortiço (personagem central do livro) de João Romão e o sobrado do Miranda, pois essas duas distintas habitações ganham importância de seres vivos e representam a tensão vivida por esses dois homens em dado momento da narrativa.
Não podemos nos esquecer também da questão do homossexualismo em O Cortiço, pois é um dos elementos constituintes da obra que ganha grande importância ao ser tratado como “desvio de conduta”, o que pode ser facilmente notado através da personagem Léonie, que foi a grande responsável pela mudança de Pombinha e que no livro é tida como um mal que contamina a sociedade.
Por todos os elementos citados anteriormente é que O Cortiço de Aluísio Azevedo torna-se, não só representante do naturalismo-realismo brasileiro, mas uma obra a frente de seu tempo e que muito pode representar aspectos pertinentes a sociedade atual em que vivemos, seja através do capitalismo desregrado do homem e sua capacidade de exploração da própria espécie, seja pelo comportamento pervertido de pessoas inescrupulosas ou pela grande desigualdade social que assola cada vez mais nosso país.