Silvana (@delivroemlivro) 19/09/2018
Oh, Liberdade...
Antes, uma breve cronologia:
Início da Revolução Francesa: 1789
História da Revolução Francesa (Thomas Carlyle): 1837 (48 anos depois)
Um conto de duas cidades (Charles Dickens): 1859 (70 anos depois; 22 anos depois)
Fome, miséria, escárnio. Tortura, esquartejamento, açoite.
Abusos, privilégios, indiferenças, desgovernos.
Injustiça social: material de combustão para a ira dos desassistidos, dos desatinados.
"O mar de águas escuras e ameaçadoras, cujas ondas destruidoras se sucediam com fúria, cujas profundezas eram ainda insondáveis e cuja força era ainda desconhecida. O mar sem remorso de formas turbulentamente convulsionadas, de vozes que clamavam por vingança e de faces temperadas nas fornalhas do sofrimento até que o toque da piedade não mais pudesse marcá-las."
A multidão enfurecida composta de cidadãos por decreto.
"(...) naquela época, as multidões não se detinham por nada, constituindo-se num monstro dos mais temíveis."
La Guillotine: "(...) uma certa estrutura móvel, com um saco e uma lâmina, da qual a História guardaria terrível memória."
Derrubam o rei, assumem o poder, instauram o terror. A justiça é A Vingança.
"(...) a nascente República Una e Indivisível da Liberdade, Igualdade, Fraternidade ou Morte."
Fome, miséria, escárnio. Tortura, esquartejamento, açoite.
Abusos, privilégios, indiferenças, desgovernos.
La Guillotine: "(...) entre 21 de janeiro de 1793 e 3 de maio de 1795, mais de 2.800 pessoas foram executadas na Place de la Révolution (hoje, Place de la Concorde)."
O oprimido virou o opressor, que virou o oprimido, que virou o opressor... Toda revolução dos homens está destinada a essa terrível espiral? O passado, atesta que sim. E o futuro o que terá a dizer?
"Todos os devoradores e insaciáveis monstros imaginados desde que a imaginação surgiu no Homem se fundiram numa única realização, a Guilhotina. E, contudo, não existe na França, a despeito de sua rica variedade de solo e de clima, uma folha, ou grama, ou raiz, ou um ramo novo, ou um grão de pimenta que possa amadurecer em condições melhores do que aquelas que engendraram esse horror. Devolva-se a humanidade à forja que a criou e utilizem-se martelos semelhantes para tornar a esculpi-la e ela se contorcerá na mesma imagem torturada. Cultivem-se de novo as mesmas sementes de desordem e opressão rapaces e certamente serão colhidos os mesmos frutos amargos."
O início do livro é magnífico, o final é esplendoroso. Toda as dualidades contidas em “Um conto de duas cidades”, as atrocidades, o amor, a ira, a delicadeza, o terror, a honra, o sacrifício, o ódio, a indiferença, a abnegação, o fanatismo, a sede de poder, a injustiça, a vingança, a ordem, a desordem reforçam a certeza de que os seres humanos são capazes de tudo. Para o bem e para o mal. E de que até as causas mais nobres, as aspirações mais caras estão suscetíveis ao abuso, à cegueira dos ignorantes e à torpeza dos tiranos.
"Oh, Liberdade, que coisas estão sendo feitas em teu nome." (Manon Roland)