Lua.gc 26/03/2023
Assustadoramente perto do mundo imaginado por Huxley!?
Admirável Mundo Novo, um livro do autor Aldous Huxley, foi publicado na época anterior à Segunda Guerra Mundial, em 1932. É uma distopia, ou seja, uma sociedade imaginária que se mantém pelo controle exercido pelo estado e por diversos meios de opressão. Nesta realidade alternativa criada por Huxley é apresentada uma civilização, na qual a tecnologia domina todos os aspectos da vida social e que conseguiu atingir a estabilidade socioeconômica e emocional. Sem sombra dúvidas esse é um livro marcante, questionador, que desperta a curiosidade.
A edição lançada em 2014 pela Editora Biblioteca Azul contém um Prefácio do próprio autor, escrito em 1966. Para os leitores que gostam de saber qual o sentimento ou em que o autor estava pensando ao escrever, é muito interessante ler esse trecho do livro. Huxley, faz uma análise de sua maturidade enquanto escritor em comparação com o jovem de 1931, trazendo sua reflexão sobre essa obra e reafirmando condenar qualquer ideologia que tente conduzir o ser humano à padronização.
?Admirável Mundo Novo? está entre os clássicos da literatura de ficção cientifica, e não é por qualquer motivo. A sociedade criada por Huxley é dividida por castas, como em uma colmeia de abelhas, onde cada indivíduo faz o trabalho que é determinado pela sua casta, sem ao menos questionar o motivo.
Os anos passam a ser contados a partir de Ford, que é considerado como um Deus. Para aqueles que irão se perguntar se é uma referência a Henry Ford, confirmo que sim, o mesmo Ford inventor do modelo T e um dos grandes nomes da indústria estadunidense e mundial. A utilização do modelo T não foi simplesmente como um registrador de tempo, mas uma alusão à forma da cruz com conotação religiosa, sendo que por vezes os personagens faziam o sinal T ao se referirem à grande Fordeza.
Fomos devidamente apresentados a uma fábrica de produção de seres humanos. Exatamente isso, as pessoas não nascem, são criadas em laboratórios. Não existe família, conceitos de ?pai e mãe? são obscenos, o amor e a monogamia não são aceitos. Dessa maneira, as pessoas são condicionadas sob influência dos ?Provérbios Hipnopédicos? (aprendizagem durante o sono), o mecanismo de utilização é a repetição das frases de efeito para garantir a sujeição da população, por isso é dito no livro que ?Sessenta e duas mil repetições fazem uma verdade?. Alguns dos ensinamentos são, por exemplo, a serem felizes ?São todos felizes agora? e a promiscuidade ?Cada um pertencente a todos?.
Após toda explicação detalhada de como essa civilização funciona, o leitor conhece Bernard Marx. Ele pertente à casta mais alta da civilização, Alfa-mais, portanto, tem mais consciência do processo de subordinação que todas as pessoas são sujeitas. Considerado diferente dos outros da sua casta, pela sua estrutura física e aparentemente um dos poucos insatisfeitos com a padronização disseminada pela vida civilizada. É um personagem importante para o desenrolar dos fatos, pois depois de retornar de suas férias em uma reserva de selvagens com duas pessoas, um selvagem e uma ex-civilizada, começam a causar muito desconforto e questionamentos num mundo que até o momento era tão estável.
É uma sociedade que produz não só pessoas em larga escala, mas também os bens de consumo, estimulando um vertiginoso consumismo. Fazendo com o que os indivíduos acreditem precisar abrir mão do livre-arbítrio, desprezar o individualismo e controlar suas emoções, pois não sentir dor, raiva, paixão é a solução para ter uma felicidade constante. Ao concluir a leitura dessa incrível distopia fica uma sensação aperto no coração ao pensar que, ao contrário da época do lançamento desse livro, estamos assustadoramente mais próximos desse mundo imaginado por Huxley.