Cesar 09/02/2023
Admirável mundo novo
O mundo distópico criado por Huxley, está situado em 632 depois de Ford, um lugar em que as pessoas não nascem através dos meios biológicos tradicionais, mas são criados em laboratórios por engenharia genética, onde são condicionados química e psicologicamente para amar sua sociedade sem jamais questioná-la. Desse modo, a estabilidade da civilização é a prioridade máxima de todos, em que cada um deve amar seu trabalho e a sua casta, não existindo também conceitos como os de religião e cultura. Nesse novo universo, não há espaço para a tristeza ou raiva, elas são substituídas pelo prazer eterno dado pelo Soma, uma droga perfeita que traz êxtase sem nenhum tipo de colateral.
Dito isso, a partir uma linguagem densa e uma narrativa confusa, nos deparamos com Bernard Marx, um indivíduo que não se encaixa muito bem nas regras dessa sociedade, questionando-as em seus pensamentos e comportamento, no entanto, tudo indica que suas “anormalidades” são devidas a um erro no sistema de produção In vitro. De todo modo, ele, assim como todos os demais personagens, não é o foco da história, mas uma espécie de ligação com todas as estruturas desse mundo, que é, em essência, seu verdadeiro protagonista.
Por conseguinte, o enredo é construído sobre um contraste entre aquilo que é chamado de “civilizado" e o "selvagem" simbolizado no por John, esse que cresceu em uma espécie de zoológico humano, afastada dos centros, com isso absorveu uma religião, moral e costumes diferentes. Para tanto, Bernard é colocado como responsável pela experiência de observar a interação dos dois, resultando uma série de análises e reflexões a respeito dos princípios de cada sociedade. Assim, percebemos que o mundo civilizado contém, no seu plano de fundo, a lei máxima da felicidade, que também pode ser traduzida como estabilidade social.
Logo, o livro retrata uma sociedade que sente repulsa por sentimentos, expectativas e frustrações, retirando a sua humanidade, pois a existência da felicidade plena necessita da destituição das nossas emoções e da liberdade. Nesse sentido, a ironia sádica da obra é perceptível quando entendemos que para manter esse grande desejo do ser humano, deve haver uma submissão a essa lei, onde, cada um tem que amar quem é, desejar sua casta, adorar seu trabalho, nunca ficar triste ou sentir dor. Em outras palavras, Huxley transforma o prazer em algo bizarro, no qual, em nenhum momento somos manipulados ou controlados, mas pagamos qualquer preço pela felicidade.
Portanto, a originalidade da obra está na colocação de uma distopia do prazer ao invés do clássico controle estatal sombrio. Além disso, também há uma outra forte crítica ao consumismo e as ideias positivistas, pois o autor faz uma sátira ao modo de produção fordista e a organização, produção e condicionamento de humanos por meios científicos. No entanto, todas essas ideias estão mascaradas com uma estrutura confusa e uma extensa referências a Shakespeare desnecessária, que muitas das vezes tornam os diálogos chatos. Ademais, boa parte do livro é lento e confuso, no qual, muitos capítulos são enfadonhos e as melhores partes da obra estão no começo e no seu fechamento.
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