Ana Bernhard 01/02/2023
Não pense, não questione, não sinta.
Imagine uma sociedade sem casamento, monogamia, família, religião, propriedade privada e pensamento individual.
Os seres humanos nascem condicionados quimicamente: seus cérebros, estruturas físicas, gostos e preferências são escolhidos desde a fase embrionária de acordo com a casta e profissão que irão seguir.
A sociedade é priorizada acima de tudo. Todos pertencem a todos. São ensinados a amar os trabalhos que são condicionados, pois isso faz bem a sociedade. Independente das suas preferências pessoais, o importante é fazer o que é melhor para o social.
Não existe mais religião, cultura ou a noção de individualidade. Ford é considerado o maior pensador e idealista de todos os tempos. As relações "religiosas" que existem são substituídas por uma adoração ao sistema. Somente uma língua permanece, um costume cultural globalizado e replicado em todos os países civilizados. Um só povo com um só propósito, as individualidades são substituídas pela generalidade.
Não existe mais tristeza, ou raiva, ou dúvida. Como são condicionados a amar os trabalhos (para o qual foram criados), no tempo livre o povo é incentivado a ingerir o "soma", uma bebida que traz êxtase e é consumida diariamente para minimizar qualquer estranheza que exista.
O sexo é livre, e é o centro. Ser livre sexualmente é bom, e é necessário. Seja atraente e bonita. Não seja rechonchuda demais, tome seus hormônios em dia e não se esqueça dos anticoncepcionais (caso algo dê errado, compareça a uma das Clínicas de Aborto).
Qualquer envolvimento emocional é extremamente reprovado. Não fique com a mesma pessoa, não gere vínculos. Não questione, não queira mais ou menos. Aceite a condição para o qual você foi criado.
O livro apresenta uma distopia que se passa em um futuro distante, mas ao mesmo tempo que ela se parece absurda, parece também um relato dos tempos atuais.
Somos incentivados a ter o sexo como o centro de nossas vidas, nos alterando e observando a fim de sermos desejáveis e atraentes para o outro (e não para nossa noção própria). Somos incentivados também a amar a esterilidade (tanto de filhos, como também emocional). Somos incentivados a "nos conformar com as coisas deste mundo", sendo condicionados a ser como as mulheres e homens na capa de revista. Somos ensinados a querer carros, dinheiro, coisas que se compra, mesmo que o nosso coração permaneça vazio. E quando o coração fica vazio ou resta uma dúvida existencial, preenchemos isso com bebidas e drogas que nos fazem esquecer momentaneamente do que sentimos e desejamos.
Não pense, não questione, não sinta.
Consuma, se anestesie, produza e replique.