Carlos531 09/07/2024
O solo do coração de um homem é empedernido. . . Um homem planta o que pode e cuida do que plantou
Em O Cemitério, Stephen King brinca com o desejo que já passou no coração de todos aqueles que perderam entes queridos: o de trazê-los de volta. E se pudéssemos trazer os nossos mortos à vida? Será que eles se adaptariam? Seriam os mesmos? E suas consciências? Nesse livro, o King nos mostra que, por vezes, morto é melhor ainda que doa e essa é uma verdade difícil de aceitar, sobretudo para aqueles que perderam alguém que amam.
Como em todo livro sobrenatural do King, a temática do quanto somos influenciados pelo meio e quanto do mal é nossa culpa é muito bem trabalhada pelo King. Ele retrata bem a verdade de que o mundo espiritual existe e nos influencia, ainda que não seja da forma fantasiosa que o autor aborda em seus livros.
Por fim, tomemos cuidado com o solo do nosso coração, pois este é empedernido (enganoso e corrupto, já nos dizia Jeremias) e o homem planta o que pode e cuida do que plantou. Cada um enterra o que é seu.
Encerrados os dizeres no que tange a filosofia do livro, certamente se faz indubitável discutir o roteiro e a construção dos personagens. Os momentos de tensão do livro, cada vez mais crescentes conforme o final se aproxima, são pontos fortes do livro. A atmosfera é rica em detalhes e a morte, retratada nua e crua como ela é, traz reflexões mórbidas mas essenciais. Nunca esquecerei de Jud dizendo que, em sua vida durante a primeira e a segunda guerra, a morte parecia entrar em sua casa, tomar um cafézinho e dar um beliscão em cada um. Nunca esquecerei Norma dizendo que as pessoas parecem querer esquecer que a morte existe.
As descrições dos momentos de horror, Pascow, Zelda, Oz, o Gande e Teível, a vívida narração nos cemitérios e funerais, adicionam camadas fúnebres à trama e de arrepiar o leitor.
Por fim, encerro dizendo que é um livro brutal não por sua violência, mas pela crueza dos temas abordados. Não é um livro fácil de ser digerido e, por mais que tenha lido em três dias, tive que fazer muitas pausas para conservar minha sanidade.
A aparição de mais uma das criaturas do King se faz característica neste romance e, como ponto negativo que me impede de dar cinco estrelas nesse livro, certamente é o uso excessivo de linguagem religiosa pejorativa e ideias contrárias à cristandade da qual faço parte. Contudo, não se é estranho que isto ocorra em autores como o King. Sei que, para ele e sua cosmovisão, chega a ser até natural. Porém, não deixou de me incomodar e me incomodou muito.
A história de Tim Baterman foi horripilante e me lembrou muito as descrições sobre os acontecimentos em Derry de It, A Coisa.
Em última análise, um excelente livro que exige estômago e coragem para ler, pois Oz, o Gande e Teível, te espera até a última página.