Carol 27/04/2020Impressões da CarolLido: Quincas Borbas {1891}
Autor: Machado de Assis {Brasil,1839-1908}
Editora: L&PM
303p.
Em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", somos apresentados a um personagem sui generis. Filósofo, mendigo, louco, herdeiro, Joaquim Borba dos Santos, o Quincas Borba, possui uma multiplicidade de prismas.
Essas inúmeras facetas, contraditórias entre si, comporão a teoria do humanitismo, assim descrita:
"Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas."
Apesar de presente no título, "Quincas Borba", o filósofo falece logo no início da trama, legando a Pedro Rubião de Alvarenga, seu único amigo, toda a fortuna e a guarda do cão Quincas Borba.
A vida de Rubião irá espelhar, de forma circular, o humanitismo, que, sendo tão contraditório, expõe o sarcasmo com que Machado de Assis enxergava as concepções filosóficas, religiosas e científicas em voga no final do século XIX, no Brasil.
"Quincas Borba" é o romance do autor que mais se prolonga na descrição da política da época, os conchavos, os interesses, as trocas de favores, um Brasil estagnado e defasado pela corrupção reinante. Afora isto, sobram ironias ao romantismo, na relação platônica entre Rubião e Sofia.
É um livro divertidíssimo e merece ser lido, sem o ranço herdado das aulas de literatura. O bruxo do Cosme Velho é sempre genial.