spoiler visualizarSarah 20/01/2020
Um pouco morno
Quincas Borba foi inicialmente publicado em folhetins, na Revista A Estação, entre 1886 e 1891; tal prática era comum entre os escritores da época, moldando também o tipo de público para o qual se escrevia. No caso do presente livro, o narrador muitas vezes se dirige ao leitor, presumindo especialmente a leitura pelo público feminino.
Quincas Borba é um personagem que já aparece em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Amigo de infância de Brás, Quincas vive desde a mendicância até a loucura. Quincas Borba, ainda, foi o responsável por elaborar a filosofia “Humanitismo”. Interpretada como uma paródia das teorias evolucionistas da época, o Humanitismo tinha como principal lema: “Ao vencedor, as batatas”. Isso exprime resumidamente a doutrina; tudo seria um só (O Humanita) e a lei da sobrevivência do mais adaptado funcionaria para a vida em sociedade, justificando as mortes e as dominações de um indivíduo sobre o outro.
Quincas aparece ainda como herdeiro de uma fortuna deixada pelo tio, apesar de pouco usufruir dela por causa da doença. Através desse segundo volume, conhecemos mais sobre a vida deste personagem, mas, apesar de o livro receber seu nome, Quincas Borba não é protagonista da história.
O enredo, ao contrário, gira em torno de Rubião. Este tentou casar a irmã com Quincas Borba; a irmã faleceu, mas a amizade continuou. Foi Rubião que cuidou do filósofo quando este adoceu, crendo que era uma doença comum e demorando para desconfiar que Quincas estava enlouquecendo.
O livro inicia em retrospectiva, enquanto o narrador em terceira pessoa observa Rubião relembrar os fatos. Doente e decadente, Quincas Borba falece em uma viagem ao Rio de Janeiro. Quando leem o testamento deixado pelo filósofo, este deixou Rubião como herdeiro universal. A única condição para tal é que Rubião cuidasse do cachorro do defunto, o qual também recebeu o nome de Quincas Borba – o filósofo argumentava que, quando morresse, seu legado continuaria no cachorro.
Pasmado, Rubião, antes simples professor de uma cidade mineira, se transforma em dono de uma fortuna. Ele se muda de Barbacena para o Rio de Janeiro, passando a vivenciar a vida na corte. Logo que entra na cidade, vira amigo de Palha e sua esposa Sofia, que passam a ser seus guias na cidade.
Desse momento para frente, a vida de Rubião muda radicalmente. Ele tem modos provincianos, não saber administrar o dinheiro e muitas age de forma ingênua com os outros. Através de Palha e Sofia, o protagonista acaba em uma montanha-russa social, perdido em interesses econômicos, sociais e pessoais, sempre parecendo incapaz de cuidar de si mesmo nesse meio.
Rubião desenvolve uma paixão platônica por Sofia. Apesar de ela o cortejar inicialmente, afasta todas as suas iniciativas, chegando ao ponto de repudiá-lo. Lentamente, Rubião vai se desnorteado neste meio e apresentando sinais de loucura, assim como o próprio Quincas Borba.
A decadência mental de Rubião se desenvolve aos poucos e a decadência econômica a acompanha, já que o próprio não tinha controle do dinheiro e todos pareciam aproveitar de sua generosidade ingênua. No final, vemos a cena em que todos os amigos abandonaram Rubião e toda a gente da rua, que outrora o admirou, agora encontra nele motivo de chacota.
No final, a única pessoa que se compadece dele é D. Fernanda, uma quase desconhecida. Rubião é internado em uma casa de saúde, mas foge e volta para Barbacena com o cão Quincas Borba. Lá morre, acreditando de forma ensandecida que é Napoleão III.
Inicialmente, eu tenho que admitir que o livro me decepcionou um pouco por não explorar mais o personagem de Quincas Borba (o filósofo). Os personagens que Machado traçou ao longo livro achei um pouco maçantes e um tanto parecidos com os personagens já presentes em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Até a metade do livro a minha leitura fluiu bem, mas depois achei que o enredo começou a ficar repetitivos e sem reviravoltas.
Em suma, eu acho muito interessante a perspectiva e as críticas que Machado faz no livro, mas ainda assim tenho a sensação de que faltou alguma coisa. Não sei por que, mas não consegui me identificar com a maior parte dos personagens e isso é necessário para que o leitor se envolva na história. Finalmente, fica comigo as reflexões provocadas e a visão social pessimista apresentada no livro.