zabela 12/04/2021Eu Não Sei Quem Você É é um livro que se propõe a ser bem profundo e discutir as mais diversas coisas: sobre como pode ser difícil para realmente conhecer alguém, sobre como educar filhos em sociedades bastante complexas (e reais), como reconhecer problemas em nossas relações com os outros e dos outros com terceiros.
O livro, de forma global, é bem denso e puxado. Lembra bastante um thriller policial, porque busca solucionar o mistério nas últimas 50 a 100 páginas. Infelizmente, o resto da história é bem angustiante e com poucas reviravoltas, e algumas coisas na história (de forma geral) são bem previsíveis.
A mecânica da autora, de dividir o livro em dois POVs diferentes, me fez ficar meio cansada e sem saco para os trechos com foco (em terceira pessoa) na Jules. Acho que, de certa forma, esse mecanismo (principalmente com a Holly em primeira pessoa) me fez sentir mais empatia pela mãe do Saul que pela mãe da Saffie. Porque as angústias dela são mais reais, já que é ela que está falando diretamente sobre isso. Não que as da Jules não sejam, principalmente porque é sua filha que foi violentada, mas... não é em primeira pessoa. E talvez seja justamente esse um dos truques do livro para fazer a gente pensar com mais profundidade sobre questões envolvendo estupro e estupradores em potencial: fazer com que a mãe do rapaz esteja falando sobre seus dramas e dilemas em primeira pessoa, e a mãe da menina, em terceira.
Mas apesar desses pontos que eu falei acima, e de achar a história meio previsível (tirando uma única coisa lá perto do final, mas que não vou falar aqui para não ter que marcar spoiler rsrs) o livro é muito bom sim, pelas reflexões sobre estupro, estupro de vulnerável e maternidade que ele nos faz ter. É mais um livro da TAG inéditos que vêm mostrando que a editora, desde o começo, vem acertando bastante nas suas escolhas.