spoiler visualizarNathalia 07/12/2021
A maior obra cristã inesperada do século XX.
Faz muito tempo desde a última vez que eu li um livro e ainda que eu tenha lido ele bem devagarzinho, acho que eu to voltando com o dois pé na porta. Esse é o primeiro livro do meu "recém-formado" clube do livro e nossa decisão em ler esse livro foi feita basicamente porque todo mundo tinha esse livro em casa. E esse livro tem muitos aspectos a serem levantados, em especial, por aqui, eu vou tratar da linguagem, o mundo, a representação da juventude e livre-arbítrio.
E pra quebrar as expectativas eu vou começar tratando sobre o livre-arbítrio, pra mim esse é o maior tema do filme (e acho que não é muito fora disso mesmo), a primeira parte do livro nos apresenta esse personagem desprezível e todas as ações dele pra realmente fazer a gente repeli-lo e não sentir empatia por ele, só pra nas partes seguintes introduzir esse tema. É muito interessante porque o Anthony Burgess destaca o livre-arbítrio como característica definitiva do ser humano - o que de certa forma é meio cristão por parte dele, mas o livro em si não tem muitas referências a religião (ainda que para mim, no fim a única pessoa que estava de fato, empenhada em reabilitar o Alex era o chapelão) e falando nisso o livro cai numa crítica pesada do sistema penitencial e, de maneira geral, a “mecanização” das relações sociais - acho que essa é a tal laranja mecânica, tratar a sociedade como uma máquina numa vai funcionar perfeitamente por que pessoas não são engrenagens.
Terminada essa reflexãozinnha, vou falar agora sobre o mundo e meio que da linguagem também porque acho que esses dois tópicos se encontram. Sempre quando leio distopias fico querendo entender sobre o funcionamento das sociedade, e nesse aspecto (ainda que eu não esteja aqui pra comparar livros) eu acho que o 1984 apresenta o mundo de maneira muito mais detalhada - ao mesmo tempo, eu sei que o Burgess optou por isso por não ter criado uma sociedade super mirabolante e é uma representação um pouco exagerada da realidade, mas mais pé no chão. E daí ele pirou na linguagem - que eu acho que se encaixa na ideia das durações da história - ainda que ele não deixe claro de quanto tempo no futuro a atividade se passa. E cara acho que a linguagem chama tanta atenção que ela até me distraiu da história. Primeiro que fiquei muito tempo me perguntando sobre porque as gírias eram eslavas e se isso tinha a ver com o socialismo, depois eu li em algum lugar que era um sistema capitalista totalitário (mas depois não encontrei mais onde é que tava escrito isso) mas daí eu comecei a questionar a tradução, queria entender como é que eles tinham feito, por que horrorshow e ultra-violence eram as únicas que não pareciam russas. Claro que todas essas dúvidas teriam sido resolvidas se eu tivesse lido no prefácio e nota da tradução.
E dai aqui eu vou já me encaminhando pro meu último tópico que é a questão da juventude. No prefácio do meu livro ele fala que o fim deste livro é otimista - kkkkkk. Acho que isso é demais, acho que no fim parece que ultraviolence é algo que tá fadado a acontecer, mas tudo bem. O fim me lembrou muito de juventude transviada ou melhor rebelde sem causa porque afinal ultraviolence é isso, mas no fim acho que essa mensagem é meio torta, ainda que a crítica a laranja mecânica continue ai. Pra explicar melhor o fim do livro, até pelo começo do último capítulo indica um ciclo e assim sendo não é otimista, é a perpetuação da ultraviolência (acho que essa é uma crítica ao cara que fez o prefácio e não ao Burgess).
Pra acabar de vez no capítulo 4 da parte 2, eu tirei uma referencia a montagem sovietica que talvez seja fontes: minha cabeça. É muito bizarro como eu tive empatia com o alex, é louco pq eu sei que ele é desprezível, mas ainda assim é muito triste ver quão pequeno ele fica sem ter liberdade, é desesperador, a cena na casa do F. Alexander na parte tres eu só queria abraçar o cara. Me assustei comigo mesma e minha capacidade de empatia. E por mais contraditório que seja achei o livro um propagador de valores cristãos escondido no meio de choque.