Ize 09/09/2024Mais ou menos a minha vidaComprei esse livro impulsivamente numa das piores crises que tive esse mês. Foi como se eu tivesse encontrado um tesouro (ou o contrário, já que paguei horroresKKK) no meio do mar!
Claro que, sendo Vitor Martins VITOR MARTINS, eu já sabia que a história seria no mínimo a melhor que leitura do meu ano (e realmente foi uma das melhores do ano), então vai ser uma tentativa muito difícil de escrever em palavras uma resenha digna para um dos meus autores favoritos da vida que também me inspira muito a escrever minhas próprias coisinhas.
Vamos lá......
Acho que já é de praxe que os livros do Vitor têm uma marca única de senso de humor que te leva do começo ao fim e te embala como uma leitura gostosa. Juro que não sei porque eu achei que esse seria mil vezes mais dramático e pesado, mas ele não foi. E não é que não tenham questões difíceis de se digerir, mas é que a escrita do Vitor faz da experiência de leitura ser uma conversa longa com um amigo íntimo (ou que você acabou de conhecer no fumódromo da Augusta e virou seu herói por uma noite!).
Bem, foi isso que eu senti lendo essa história.
Em questões pessoais, passei por uma vivência extremamente IGUAL ao do Júnior e é extremamente difícil esse julgamento interno por questões totalmente normais que pensamos quando um pai ausente da gente morre. Acho que nunca consegui por em palavras isso, mas o Vitor conseguiu! E ainda bem! Porque é uma construção incrível de todos os raciocínios internos que ficam na mente e como tudo isso se transforma em um tsunami de culpa e questionamentos da sua vida inteira. Além do problema de que, ninguém ganha numa situação dessas. Você perde alguém importante para sempre e nunca vai saber o que sua vida seria se esse alguém se desse o trabalho de tentar um pouco mais por você. Alguém que supostamente deveria tentar um pouco mais por você.
Pensamentos tão íntimos e tão reais são colocados nas páginas desse livro que é fácil de devorar em poucas horas. Fiquei uns três dias com ele, digerindo e entendendo e me sentindo tão conectada com o protagonista que parecia estar lendo sobre a minha própria vida.
Acredito que seja muito pertinente essa questão do jovem-adulto-prestes-a-trintar porque todos nós nos sentimos meio Júnior. Tenho 30 anos, o que vou fazer da vida agora? Tenho 30 anos, ainda posso sonhar? Tenho 30 anos, sou LGBT do interior e nunca fiz nada do que queria porque carrego uma bagagem de traumas que nunca me permitiram viver da maneira que eu mereço e gostaria, e agora? Posso continuar ou vou ter que dar minha vida por acabado? Eu, logo eu, que nunca achei que chegaria nos 30, agora TENHO 30! E é um pouco sobre isso mesmo. É difícil demais se ver nesse lugar de recomeços numa idade tão marcante em que você ou deixou de viver muito ou viveu meio errado com expectativas demais, sem querer assumir todos os seus devaneios e erros no caminho.
9 horas de viagem ao lado de alguém que você meio que nunca deixou de amar, também coloca as coisas em perspectiva. E só DEUS e o VITOR MARTINS sabe como é a sensação de encontrar uma pessoa tão importante na sua vida num momento em que você mais precisa de alguém assim. É horrível! Mas é tão bom também, e senti que esse livro passou tudo isso de forma leve.
Como eu disse, o livro foi muito além do que imaginei e é uma história sobre descobertas no meio do caos. Coisa que muita gente também vai se identificar, provavelmente também entender como é se sentir tão perdido nessa viagem que é a vida adulta.
Eu também não posso deixar de comentar que as partes específicas de reflexão do Júnior são muito engraçadas e como a coisa toda dele ser uma pessoa criativa faz a história ter um charme a mais.
No mais, ai de nós pessoas que amamos escrever mas nunca tivemos a coragem de nos colocar no mundo! Que sirva de incentivo para você também entender que o único responsável pela nossa própria vida, somos nós.
Por bem e por mal.
P.s. de explicação porque 4.5 estrelas:
Uma crítica construtiva que nem sei se o Vitor vai ler (espero que não. Vitor, se estiver lendo isso aqui, finja que tem muitos emojis de flores e brilhos entre as críticas que vou apontar).
Um problema que eu achei nesse livro é que, apesar de ser bem escrito e ter um roteiro babado e construção de personagens maravilhosa, a descrição é inexistente. É difícil ler uma história com pouca informação de descrição de personagens ou ambientação e isso foi um dos motivos de eu ter abaixado a nota. Me incomodou um pouco, não vou mentir, porque muitas cenas pareciam acontecer com um cenário que o leitor tem que imaginar e não o contrário. É um saco sim ter que ler e descrever parágrafos de ambientação, mas a falta de detalhes deixa a história um tanto vaga. Não me lembro se as outras histórias do autor também são assim, mas seria importante um editor ter dado esse toque. Enfim, é essa literalmente a minha única crítica porque de resto achei tudo incrível, mil beijos!!