Luhran 28/10/2024Otávio, estamos com vocêJúnior precisou cancelar a comemoração do seu aniversário de trinta anos, depois de receber uma ligação de sua mãe, notificando-o de que seu pai infelizmente faleceu após um AVC. Incrédulo de que seu progenitor o tivesse tirado de mais um momento bom, ele embarca num ônibus de São Paulo para Nova Friburgo, numa viagem de mais ou menos nove horas de estrada, para dar suporte emocional à sua mãe, já que ele mesmo não sente nada com a perda que sofreram.
Como se não bastassem os pensamentos intrusivos sobre sua antiga vida com seu pai, Júnior após trocar de assento no ônibus, acaba se deparando com seu primeiro ex como companheiro de viagem. Agora, tudo volta como uma avalanche, derrubando-o ladeira abaixo, de volta aos seus mais ou menos dezessete anos de idade.
Com capítulos intercalados entre passado e presente, o protagonista revive algumas de suas memórias mais marcantes da época em que namorava Otávio, enquanto se questiona firmemente sobre qual é o seu lugar no agora.
Júnior é um personagem repleto de frustrações; percebemos ao longo de sua história o quão difícil é conviver com ele. Com quase trinta anos de idade e com uma falta enorme de maturidade emocional, o ex de Otávio culpa qualquer um por seus fracassos, menos a si mesmo. De um narcisismo nato incorporado, acreditem, o ex canalha nesta história definitivamente é o protagonista.
A escrita de Vitor Martins é impecável, viciante e extremamente fluída, mas o enredo de "Mais ou menos 9 horas" não me cativou. Se existisse um lado certo, este lado certamente seria o de Otávio, que mesmo após mais ou menos treze anos depois de seu namoro com Júnior, ainda precisou ser muito resiliente e paciente para não descer daquele ônibus, apavorado com a ideia de ser saco de pancada emocional de seu ex desequilibrado psicologicamente.
O livro teria mais ou menos cinco minutos se Júnior frequentasse um terapeuta e soubesse resolver os problemas dele sem jogar a culpa nos outros. Acredito que o final do livro ainda piorou a situação do personagem, que começou o livro vomitando desprezo pelo seu pai ausente e finaliza numa hipocrisia que amarga a boca.
Essas são as mais ou menos 9 horas mais sofridas da vida de Otávio, o ex não tóxico aqui presente.