Karine914 06/04/2020
Bons personagens, mas história nada envolvente
Ler esse livro me deixou uma sensação amarga. Só depois de pensar um pouco entendi o porquê.
A capa linda e os detalhes do lado do livro dão muita vontade de ler, mas as aparências infelizmente enganam.
Não coloco a culpa nos personagens, muito pelo contrário: eles são a melhor parte da história, o ponto mais alto. Midas, Ida, Henry, o próprio pai de Midas (homônimo), têm o background bem explorado e personalidades diversificadas.
Talvez seja isso que cause grande parte da decepção. Você consegue se apegar aos personagens e a história não faz jus a eles. Midas, mesmo introvertido, possui motivos para isso em seu passado conturbado com a família, e desenvolve um carinho profundo por Ida. Ele tem medo de não gostar nunca mais das pessoas, o que é mostrado por belas analogias com a fotografia, seu hobby predileto - talvez ele prefira as coisas em duas dimensões, não a profundidade do mundo 3d. A menina dos pés de vidro (Ida) é o oposto: muito extrovertida, fala o que pensa, divertida, e rapidamente se apaixona por Midas também.
O romance se desenvolve da metade para o final do livro, e eu até prefiro que não seja tão rápido. Romances instantâneos, do tipo miojo, não agradam nem convencem. Quem gosta de cenas mais ''íntimas'' entre os casais também não vai sair decepcionado.
Assim parece que adorei o livro, mas em breve vou chegar ao que me desagradou.
Dois personagens impossíveis de desenvolver antipatia são o Gustav e a Denver, sua filha de 7 anos e uma das coisinhas mais inteligentes que já vi, inclusive ajudando Midas a repensar algumas atitudes. Gustav é dono da floricultura em que Midas trabalha e também seu melhor amigo. Sua esposa faleceu tragicamente, como outros personagens do livro.
O ponto fundamental do enredo é justamente a ocorrência de alguns fenômenos inexplicáveis na ilha em que Midas e os personagens (fora Ida) moram. E, infelizmente, em minha opinião, não houve desenvolvimento satisfatório.
[SPOILERS]
Sabemos que um livro de fantasia, para prender o leitor, precisa ter um mínimo de credibilidade, mesmo que apenas no mundo inventado. A história dos bois com asas não me desceu (e não tem motivo ALGUM! Não ajuda na trama, nada). Achei ridículo, sinto muito, não deu.
Outro ponto: não há explicação alguma para o fato da Ida estar virando vidro! Zero! Entendo quando o autor deixa em aberto, mas dá pistas pra você desvendar. Aqui, não há o que ser desvendado. A própria Ida me representa e se irrita com o Henry, questionando o que ela pode ter feito para aquilo acontecer, se ela havia pisado em algo, visto algo. E ele dá uma resposta inconclusiva: às vezes as coisas simplesmente acontecem e não há o que fazer. Isso não é uma resposta digna, tampouco algo a ser transportado para a vida real. Decepcionante.
Em cerca de dois momentos do livro, Henry cita uma criatura que transforma em branco tudo o que vê. Mas quando Ida o questiona sobre si, ele não dá a entender ser essa a causa, até porque o vidro é transparente, não branco. Talvez ele se referisse à ilha, que é cheia de neve.
O final é até difícil de comentar. Não quero dar spoiler pra ninguém sobre algo tão importante, mas já digo que não gostei de 90% dele. Os outros 10% dizem respeito à atitude do Midas, que foi o personagem que mais se desenvolveu durante o livro.
Em resumo, é uma leitura que não recomendo, com tristeza, pois queria ter gostado do livro. A receita era perfeita, mas a execução foi tortuosa. O livro é relativamente curto, mas o andar da história consegue ser maçante em determinadas partes.
Descobri que o autor possui outro livro chamado ''The Man Who Rained'' (O Homem que Chovia - tradução minha), lançado 2 anos depois, e parece ser no mesmo estilo - até a capa é semelhante. Quem gostou desse, provavelmente deve dar uma chance ao outro.
Eu não darei.