Vharel 14/08/2023
Os primórdios da barbárie humana
"Agente precisa de regras, e precisa obedecer as regras. Afinal, não somos selvagens. Somos ingleses; e os ingleses são os melhores do mundo em tudo".
???
Senhor das Moscas é uma obra clássica de William Golding originalmente publicada em 1954, e que mais tarde viria a ganhar o Prêmio Nobel de literatura em 1983. O livro com seu título curioso contará a história de um grupo de garotos que aparentemente estavam em avião e que de alguma maneira, por circunstâncias não explicadas, pousaram em uma ilha desabitada. Sozinhos e livres de qualquer autoridade adulta, os meninos terão que buscar meios para sobreviver naquele local deserto e desprovido de toda e qualquer moral e razão antes impostas a eles na sociedade em que viviam.
??
Nas palavras de E. M. Foster, este livro é "trágico e provocante", e não seria tão épico se não fosse assim. O pequeno diálogo transcrito acima é uma provocação bem elaborada de William Golding a aparente "superioridade inglesa" e mostra ao leitor o tipo de pensamento que uns e outros cultivavam, e por sua vez passavam para sua prole como ideal. É possível também ver está obra como uma resposta ácida a um livro chamado "A Ilha do Coral", onde jovens ingleses vão parar em uma ilha e lá demonstram suas altas capacidades em conquistar e dominar da forma mais superior possível; algo que dificilmente aconteceria em uma situação real, seja qual for o local de onde você venha.
??
Apesar de pessimista, cruel, e realista em alguns pontos, este livro é muito bom e tem as amarras certas para prender quem o lê. Ralf, Jack e Porquinho são personagens alegóricos e tem suas representações bem elaboradas em cada ponto. É possível discernir a linha de pensamento do autor em todo o contexto da história e fica mais claro quando o leitor salta para fora das páginas e descobre que Golding participou da Segunda Guerra Mundial, fato esse que influenciou os pilares de sua escrita para criar uma obra onde a natureza da barbárie humana é explorada na sua mais cruel forma.
Se a história tem um final feliz? Acredito que
Thomas Hobbes tenha a resposta.