becalim 22/06/2024
Bom, mas esperava mais
A Batalha do Apocalipse acompanha Ablon, um querubim expulso do céu após tramar uma revolta na tentativa de expurgar o Arcanjo Miguel do poder celeste.
A ideia de abordar castas angélicas e seres de diferentes mitologias na atualidade soa interessante. Mas ao meu ver o livro falha em justamente pôr apenas Ablon como o principal personagem, quando poderíamos ver o ponto de vista de outros renegados que precisaram se adaptar aos costumes humanos e se camuflarem na Haled (termo que o livro utiliza para se referir ao mundo humano) para fugirem dos anjos de Miguel e dos demônios de Lúcifer. Ablon sozinho não tem carisma nem personalidade o suficiente para sustentar o peso que a história necessitava. Ver como cada um deles foi capturado e depois morto teria me prendido mais na trama do que ler apenas o Ablon fugindo e se escondendo.
Temos pouquíssimos capítulos no ponto de vista da feiticeira Shamira, que se mostra uma personagem curiosa e interessante em determinados momentos da trama, mas muitas vezes resumida apenas a alguém que ajuda e garante que Ablon não morra. A personagem poderia ter sido utilizada de melhor forma, ela se torna imortal por sugar energia de seres malignos e em nenhum momento isso é debatido ou ao menos dado a devida atenção. Ablon revela ser um anjo a ela com muita facilidade e os dois se apaixonam em poucas páginas, tornando o momento totalmente abrupto e levemente desconfortável.
Personagens demais para pouco desenvolvimento. O tempo que o autor poderia ter levado desenvolvendo esses personagens - ou pelo menos trazendo eles na trama mais vezes para entendermos sua importância -, ele perde fazendo flashbacks que poderiam ser resumidos em poucas páginas. O capítulo mais longo tem mais de 130 páginas, e mais ou menos 40 são só descrições do percurso de viagem e negociações.
Há uma utilização recorrente de deus ex machina, e muitas cenas acabam perdendo o impacto por conta disso. Repetições constantes de coisas que já haviam sido ditas anteriormente. Explicações sobre coisas que sequer foram mencionadas, como por exemplo, quando na narração é esclarecido o que são vértices, portais, vórtices etc, mas em nenhum momento do capítulo Ablon faz uma passagem para qualquer plano nem ao menos chega a pensar em diferentes planos para as passagens serem explicadas. A explicação teria sido mais propricia quando Ablon está em um restaurante com Aziel e Sieme, quando eles de fato mencionam as passagens dimensionais.
Toda a questão do livre-arbítrio e dos Arcanjos sentirem inveja dos humanos por conta disso, queria que tivesse tido mais aprofundamento. Os Arcanjos tomam decisões constantes que se assemelham ao livre-arbítrio terreno, então achei que alguma hora isso seria apontado, mas não. As diferentes dimensões são confusas e difíceis de entender até mesmo com a ajuda do glossário.
Em contrapartida, Eduardo Spohr consegue passar com muita credibilidade a ideia de um universo mágico e milenar. As descrições de cenários, passagens históricas, rotas de viagem, costumes... É uma viagem no tempo extremamente interessante. Mesmo com os defeitos do romance instantâneo de Ablon e Shamira, ainda assim você consegue se apegar aos dois e torcer por seu final feliz. Algumas reviravoltas funcionam, apesar de uma ou outra serem previsíveis. As castas angélicas são intrigantes e você torce para conhecer mais sobre cada uma delas. O conceito dos Arcanjos e o mistério de saber o que aconteceu com Yahweh prendem e instigam o leitor a continuar para descobrir.
Finalizando: A Batalha do Apocalipse é um livro denso, com muitas informações que podem acabar sendo difíceis de pegar, com o desenvolvimento um pouco raso, mas que cumpre com sua promessa de entregar um universo chamativo e que no final das contas se torna atrativo a ponto de você querer continuar lendo para descobrir o desfecho.
Estou seguindo agora para Herdeiros de Atlântida e espero que minha percepção final seja melhor do que foi com este livro.