Diego Rodrigues 31/05/2023
"O homem não foi feito para a derrota"
Um dos principais expoentes da chamada Geração Perdida, Hemingway era um fervoroso defensor da escrita concisa. Seus parágrafos curtos e frases secas contrastavam com a escrita prolixa e açucarada de outros grandes romancistas. O estilo, que segundo o autor preservava o "gume das palavras", acabou o consagrando como um dos mais influentes escritores norte-americanos do século XX. Seu último trabalho publicado em vida e principal responsável por levá-lo ao Nobel de Literatura em 1954, "O Velho e o Mar" talvez seja o maior representante dessa escola.
Publicada originalmente em 1952, a novela de pouco mais de cem páginas contrapõe o épico ao narrar o drama de Santiago, um humilde e velho pescador que está há 84 dias sem pegar um único peixe. Tido pela maior parte da aldeia como um velho infortunado e que começa a dar os primeiros sinais de senilidade, sua única companhia é o jovem Manolin, garoto a quem ensinou a pescar. Mas, no 85º dia de sua peleja, o destino reservara uma surpresa para o velho pescador. Um peixe de grandes dimensões morde sua isca, dando início a uma incansável batalha. E o que começa a se desenhar como um grande épico (à la Moby Dick) é completamente subvertido pelo autor.
A grande batalha de "O Velho e o Mar" não se dá entre pescador e peixe, mas entre um velho e seu corpo que já não responde como antes, sua mente anuviada e a solidão de uma vida perto do fim. Santiago é resiliente, aceita as agruras que a vida lhe impôs mas está longe de entregar os pontos: "Agora não há tempo para pensar o que você não tem. Pense no que pode fazer com o que tem." Em um pequeno barco, longe da costa e sem as ferramentas adequadas, ele precisa lutar, sozinho, para manter acesa a chama de seu espírito.
Este é um livro sobre muitas coisas: resignação, superação, amadurecimento, solidão, esperança... É também uma obra sobre as grandes batalhas que travamos internamente. Aquelas que, ao contrário dos grandes épicos, não têm testemunhas, a não ser nós mesmos. Sem holofotes, sem troféus, ninguém esperando na linha de chegada... Certamente a leitura o fará se lembrar de algum momento difícil que tenha atravessado. Pode ser um luto, uma depressão, o fim de um relacionamento, uma crise existencial, enfim, qualquer coisa que tenha quebrado você... Muitas analogias cabem aqui dentro. É um livro que escancara toda a fragilidade humana, mas também revela a incrível capacidade que temos de superação. Afinal, nas palavras de Santiago, "o homem não foi feito para a derrota".
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