Raomi1 11/05/2024
O que mais dizer?
Essa é a primeira experiência que tenho lendo um livro da queridissima e emblemática Clarice, e o meu choque não poderia ser, de forma felizmente positiva, diferente. Eu possuo todos os contos dela aqui comigo, e esse era o contato que costumava ter, sorteando vez ou outra uma pagina em que meus olhos se depositassem, para assim embarcar na leitura. Com a forma mais extensa e narrada, não mais se prendendo ao enredo curto de um conto, a autora nos traz o vislumbre do que é a profundidade da sua escrita, que aqui, por ser seu primeiro livro, ainda vê-se as transformações e em como a prática a ensinou a manusear as palavras de forma mágica, criando sinuosidades que nos deixam de queixo.
Joana aqui é o retrato falado da imprevibilidade, nada do que se espera - e nem do que se quer - que uma pessoa faça, ela o fará. O que para muitos soa odioso e ultrajante, ela toma como impulso para discorrer sobre a profundidade de suas sensações. Vez ou outra observando quem está ao seu entorno e deixando, mesmo que de maneira inconsciente - acreditando eu que não - uma série de pequenas armadilhas em suas falas e expressões, que em essência não visam arrancar o pedaço de seu ninguém, mas Joana, tenaz e perspicaz de uma forma inocente, coleta o rastro da individualidade de quem se cruza com ela, para que de forma voraz consiga compreender o que é de fato a vida e o que é isso de que todos tanto falam.
A narrativa tem um tom sinestésico bastante bonito, conferindo gostos aos sons, cores aos gostos, texturas às visões e, quando não se há como nomear, ela simplesmente rompe o tempo e o espaço para expressar o que se revira na paixão tempestuosa das suas entranhas. Não tenho muito o que dizer, pois levará um tempo até que uma parte do feitiço deixado por Clarice se dilua dentro de mim.