tbbrgs 29/11/2020
Primeiras Estórias, o primeiro livro
"De lá, o sol queria sair, na região da estrela-d'alva. A beira do campo, escura, como um muro baixo, quebrava-se, num ponto, dourado rombo, de bordas estilhaçadas. Por ali, se balançou para cima, suave, aos ligeiros vagarinhos, o meio-sol, o disco, o liso, o sol, a luz por tudo. Agora, era a bola de ouro a se equilibrar no azul de um fio".
Assim, Rosa descreveu o nascer do sol no último conto, Os Cimos, de Primeiras Estórias, que eu demorei à beça pra ler, mas valeu muito a pena ter esperado pra terminar, porque é com certeza um dos melhores livros que li esse ano, só pelo jeitinho com que o Guimarães escreve as coisas.
Quando comecei a ler o livro em agosto (ou talvez no final de julho?), estranhei de cara a escrita do Guimarães e estava tendo bastante dificuldade pra deixar a leitura fluir. Isso por ser o primeiríssimo livro de Guimarães que leio, então nunca tive contato nenhum com o tipo de escrita dele. Apesar de a minha mãe ter Rosa entre seus escritores preferidos, eu só fui começar a ler agora.
Uma das coisas que me ajudou bastante ao longo da leitura do livro foi, esse semestre, ter tido uma disciplina na faculdade em que a professora falou muito de um dos contos desse livro (Famigerado) e também fez uma leitura de um conto de Tutameia. Ela explicou tanta coisa, tanto sobre o conto, quanto sobre o próprio escritor, que me fez perceber um pouco como era bem particular a experiência de leitura de Guimarães, e eu cheguei à conclusão de que é só um estilo de escrita que a medida que nós lemos, nós nos acostumamos. A dificuldade inicial passa depois que entendemos um pouco mais, vamos pesquisando e procurando aprender tudo o que gira em torno daquela obra, de seu escritor e do mundo em que ele viveu.
A escrita de Guimarães é muito diferente de qualquer coisa que eu já tenha lido. Em muitos contos desse livro, na primeira leitura, em muitos casos, era uma primeira leitura difícil de penetrar, mais densa. Demorei pra ler esse livro, em grande medida, por causa disso: muitos contos eu lia duas vezes, porque ler uma vez não bastava. A segunda leitura costumava ser realmente muito mais esclarecedora do que a primeira, e eu conseguia ter uma visão mais ampla do conto e entender as entrelinhas, observar a estrutura e a forma das descrições de personagens e lugares com muito mais perceptividade e atenção. A cada conto que eu lia, era todo um universo novo criado em poucas páginas, em palavras tão bem elaboradas, imaginadas, inventadas. Esses contos emanam uma energia literária própria incomparável, cada um fala por si só e ao ler eles percebi o motivo pelo qual ecoam além da vida de Rosa, pelo qual são considerados histórias clássicas da literatura brasileira.