Daniele 29/04/2021
Seria a moralidade provinda da fé?
Esse é um debate presente nos primeiros capítulos, levantado por Ivã Karamázov, filho do meio de Fiódor. Obviamente não é o único, durante a leitura, várias outras questões filosóficas religiosas complexas são levantadas por todos os personagens.
Aliocha, que escolhera uma vida monástica, logo no começo é descrito como realista, o que de forma alguma abala seu credo, já que não são os milagres que o levam a crer; "No realista, a fé não nasce do milagre, mas o milagre da fé". Ao longo dos fatos, se mostra como principal personagem presente na narrativa, um garoto doce, de bom coração e apaziguador, mas que não deixa de ter, assim como os demais Karamázov, vícios e demônios dentro de si.
A cerca do milagre é muitas vezes tratada e discutida. Durante o poema "O Grande Inquisidor" recitado por Ivã à Aliocha, o ancião trata da natureza humana de repelir o milagre, dando como principal exemplo as 3 tentações de Cristo, e discorre sobre o porquê de recusar-se, mesmo em meios as multidões; "Sem uma ideia nítida da finalidade da existência, prefere o homem a ela renunciar e se destruirá em vez de ficar na terra, embora cercado de montes de pão" (lê-se pão como os milagres).
A escrita de Dostoiévski é, antes de tudo, não uma forma de encontrar respostas à perguntas simples, ao contrário; o debate a cerca da moralidade e imortalidade, se mostram um diálogo aberto, em contradições e sem uma lógica sistematizada, esmiuçando por sua vez, cada personagem e suas falas. Citando aqui Pondé, ler seus romances é como a sensação de afundar num abismo. Particularmente, isso e mais um misto de prazer e reflexão.
Uma leitura definitivamente engrandecedora. Estou apaixonada por ele, por cada um de seus personagens com suas questões únicas, personalidades e falas. Um livro que acaba de se tornar um de meus livros preferidos, com certeza.
Um tijolão e clássico que merece, sem dúvidas, ser lido!