spoiler visualizarO Livro da vez por David Thomas 27/08/2020
Resenha: Mar Morto, de Jorge Amado (Youtube: O Livro da vez por David Thomas)
Análise da Obra
1. Informações técnicas da obra:
• Título da Obra: Mar Morto
• Autor/Autora da obra: Jorge Leal Amado de Faria;
• Editora: Editora Martins;
• Data de publicação: 1936;
2. Espírito/ Essência da obra:
• Gênero textual: Romance regionalista do Modernismo literário brasileiro;
• Escola Literário/Período literário: Modernismo;
• Ambiente físico e temporal da obra: Cais da Bahia (Pelas informações dadas pelo narrador, percebe-se que se trata de Salvador). Do ponto de vista cronológico, a ambientação se concentra praticamente ao mesmo tempo da criação do livro: década de 30.
• Tipo de narrador: Esse é um tipo de narrador que não se preocupa em datar com muita precisão o que conta. Narrador onisciente em terceira pessoa que vai revelando ao leitor uma visão pessoal do que acontece.
3. Enredo:
O Livro é quase como uma biografia do protagonista Guma. Lívia espera ansiosamente, numa noite tempestuosa, a chegada do marido. Logo nos primeiros capítulos, conhecemos em detalhes o protagonista, criado pelo tio, senhor Francisco, um mestre de saveiro e sua esposa, Rita. Abandonado cedo pela mãe que iludida pelo pai, Frederico, foi expulsa e tornou-se prostituta, Guma mal chegou a conhecê-la. Mal frequentou a escola e logo quis tomar o mesmo destino do tio, assim como a maioria dos meninos do cais. Seu pai e sua tia morrem no mesmo dia, sua mãe nunca mais aparecera e ele acaba cuidando de seu tio Francisco. Uma personagem que logo surge, muito popular na região do cais, é Rosa Palmeirão, uma prostituta, muito bonita e com um temperamento muito forte, sempre conquistou a sedução dos marinheiros facilmente. Seu preferido sempre foi Guma, já que ele foi o único quem a olhou nos olhos. No capítulo em que ela é introduzida no enredo, confessa-lhe tristemente que seu maior sonho era ter tido um filho. Contanto a história de Guma desde o nascimento, o abandono materno por conta da prostituição, etc... o livro é quase que uma narração biográfica. Logo o protagonista se encanta por Lívia, uma moça muito bonita e que não era do mar. Ambos se apaixonam e tiveram que fugir para assim seu casamento ser aceito, já que nesse caso, segundo a visão da época, eles seriam obrigados a se casar para a moça não ser “mal falada”. Há uma crença (e disputa) das esposas dos marinheiros com Janaína, a Rainha do Mar, ou seja, Iemanjá, que cedo ou tarde leva os marinheiros para o fundo do mar. Esse dia é um dos maiores temores de Lívia. A esposa de Guma finalmente engravida do marinheiro e tão logo ela teme que o filho siga os mesmos passos do pai. O casal é muito amigo de Rufino e Esmeralda, personagem essa que logo passa a dar em cima do melhor amigo do marido. Percebemos que Guma, mesmo com Lívia grávida e pela consideração ao amigo, começa aos poucos a ceder às investidas de Esmeralda. Um dia Lívia recebe a profecia de uma cartomante que Guma iria melhorar de vida, porém ele iria correr muito perigo. A partir do momento que Guma e a mulher do amigo de infância, Esmeralda, têm a primeira relação sexual, a narrativa passa a girar em torno da dor de consciência do protagonista e das intimidações de escândalo que Esmeralda ameaçava dar, louca para tê-lo novamente. A dor de consciência de Guma é algo muito compreensível, pois ele a possuiu no quarto ao lado em que Lívia descansava pouco depois de quase ter sofrido um aborto, além do fato dele ter traído o amigo de infância. A consciência e o medo de Guma chega a ser tanto que ele constantemente imagina a morte de Esmeralda como uma excelente saída para os seus temores, algo que acaba acontecendo, pois Rufino ao descobrir que Esmeralda o traiu, a leva de barco no meio do mar e a mata, depois dela lhe confessar que transou também com Guma. Não suportando a dor de ser traído pelo melhor amigo, Rufino se joga ao mar e tira a própria vida. No final do livro, Guma para salvar a família de uma crise, acaba se envolvendo num contrabando. Determinada noite em que ele foi realizar uma entrega, seu barco vira no meio de uma tempestade e os temores de Lívia se concretizam. O corpo de Guma nunca mais é encontrado e Lívia, que tanto temia o mar, torna-se uma marinheira.
4. Minha opinião sobre a obra:
• Mesmo sendo uma obra publicada na década de 1930 (junto com Jubiabá), não é uma obra com forte conteúdo político, muito embora no final a morte de Guma representa
o quanto a classe operária se sacrifica pelo capitalismo;
• Preso em 1936, a temporada o fez ser interrogado sem sofrer violência física. Jorge Amado seria preso outras vezes sob o Governo Vargas;
• Com menos personagens que “Jubiabá”, de teor político mais discreto, permitiu que o livro circulasse em época de repressão;
• Livro escrito no Brasil. O mais lírico entre todos;
• Mar Morto parecia ser o único livro de Jorge Amado que circulava livremente sem ser alvo da censura. Virou radionovela em 1940 pela Rádio Nacional e El Mundo, em Buenos Aires e aqui no Brasil tivemos a novela “Porto dos Milagres”;
• Dos livros dele, Mar Morto era o livro que Jorge Amado mais gostava;
• Numa noite em que Guma está em um bordel, ele quase se envolve com uma prostituta que foi expulsa de casa por ter se relacionado com um caixeiro viajante. Não tem como não lembrar da protagonista de Tieta do Agreste. Mesmo que o romance Tieta tenha sido publicado anos depois de Mar Morto, fica a pergunta se mesmo nessa época, por algum motivo, Jorge Amado já refletia sobre essa personagem futurística;
• Podemos perceber que o autor era a favor do aborto logo na introdução do capítulo “Esmeralda”;
• Há um momento no enredo que os personagens estão fazendo uma festa à orixá Iemanjá. Presenteiam-na jogando um cavalo, cegado com ferro em brasa, atirando-o ao mar. Além de eu achar esse trecho narrado tão detalhadamente desnecessário, há também essa prática abjeta praticada por essas religiões;
• Algo curioso é o fato de Antônio Balduíno aparecer cumprimentando Guma. Essa cena que isso ocorre (se não me engano), ocorre tal como aconteceu no livro Jubiabá.
Referências Bibliográficas:
Aguiar, Joselia. Jorge Amado: uma biografia. 1ª ed. Todavia, 2018;
site: https://www.youtube.com/watch?v=jrv8BHtc-ug&t=10s