O som e a fúria

O som e a fúria William Faulkner




Resenhas - O Som e a Fúria


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Eduardo 10/12/2014

Tomorow and tomorow and tomorow...

“O Som e a fúria”, livro tão intenso quanto o título. Marcado pela trágica história de uma família sulista estadunidense; os Compsons. Quase que destinados ao ódio a ganancia e a desesperança, os membros da família colocam em processo de derrocada a sua própria existência.

Resenha completa no blog.

site: http://odemonionasentrelinhas.tumblr.com/post/104808512293/tomorow-and-tomorow-and-tomorow
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Leonardo 05/02/2014

Uma grande conquista
Se você já fez testes de listening de nível avançado, em que há dois ou três diálogos simultâneos ocorrendo e você tem que pescar informações periféricas, deve ter enfrentado aquela sensação de limiar, de corda esticada até onde dá, a ponto de arrebentar: você está acertando as questões, está conseguindo captar as palavras, mas sabe que um pouquinho mais rápido, um pouquinho, um tantinho mais difícil, e será um desastre total. Você precisa concentrar toda a sua atenção naquele áudio. Esquecer-se da sua respiração, esquecer-se dos colegas do lado, do ar-condicionado frio demais (ou de menos), dos pratos pra lavar quando chegar em casa. Só existe o áudio, apresentando um diálogo genérico e rápido. E difícil. E por isso mesmo altamente desafiador. À medida que o diálogo avança, você se enche de alegria por cada questão cuja resposta correta você consegue identificar, mas ao mesmo tempo, vai ficando tenso, seu peito começa a arfar, a pulsação sobe, os olhos param de piscar, porque não tem a menor ideia a respeito da próxima questão: serei capaz de compreendê-la? Conseguirei identificar o que disse Mrs. Jones a respeito da época do ano em que é mais conveniente comprar queijo suíço? E assim prossegue a prova. As vitórias se sucedem, mas muito custosas, porque o desconhecido parece sempre apontar no horizonte, como numa perseguição ao contrário. Até que a prova acaba, e só então você consegue inspirar profundamente e deixar todo aquele ar sair do seu corpo. Alívio. Alegria. Orgulho de si mesmo, por ter sido capaz de passar no teste. Aí você olha a folha de respostas e pensa: quase. Quase! Por muito pouco não fui reprovado!
O leitor já deve ter percebido que com essa historiazinha, pretendo ilustrar a experiência que foi ter lido O Som e a Fúria, mais famoso livro de William Faulkner. Não é exagero. Nas primeiras cinquenta páginas eu estava achando que não iria compreender nada do livro. Que terminaria a leitura e me veria forçado a admitir que não tinha gostado. Que Faulkner exagerara. Que não havia encontrado sentido na história.
Conheci Faulkner em 2010. Entre março e agosto daquele ano, li os quatro livros do americano que “constavam no meu currículo” até então: Luz em Agosto, espetacular porta de entrada para o universo do autor, que me fez rotulá-lo como gênio; Enquanto Agonizo, que me confirmou esta impressão; A Árvore dos Desejos, única incursão de Faulkner na literatura infantil (li para meu filho); e Santuário, único livro “comercial” de Faulkner, e mesmo assim, um livro bastante difícil.
Difícil, por falar nisso, é um advérbio facilmente aplicável ao verbo escrever, se é Faulkner quem escreve. Sua fama de escritor intrincado e complexo era conhecida por todos, e o próprio Faulkner se orgulhava disso. Numa das suas famosas rusgas com Hemingway, Faulkner disse que seu desafeto era conhecido por nunca ter usado uma palavra que fizesse o leitor consultar o dicionário. Hemingway respondeu: “Pobre Faulkner. Ele realmente acha que grandes emoções vêm de grandes palavras?”
Divago.
Como eu dizia, Faulkner foi um caso de amor à primeira vista. Fiquei fascinado com a maneira que ele escrevia, com seus personagens, com suas histórias. Passei a considerá-lo um dos meus escritores favoritos desde sempre. Passaram-se três anos, e nas minhas férias, no final de dezembro do ano passado, relutante, tirei O Som e a Fúria da prateleira do meu irmão.
Por que relutante? Achava que não iria gostar de O Som e a Fúria. Achava que iria me desencantar com aquele Faulkner quase mágico. Aquele não era o Faulkner real, mas um que eu criara, fruto de um encanto passageiro, que durara os seis meses entre a leitura de Luz em Agosto e Santuário.
O Som e a Fúria é uma espécie de Crônica da Casa Assassinada, um dos meus livros favoritos. Conta a história da decadência dos Compson, tradicional família do sul dos Estados Unidos.
O livro é dividido em quatro partes. Na primeira parte, centrada no dia 7 de abril de 1928, acompanhamos os fatos sob a perspectiva de um deficiente mental, Benjy Compson. É tudo muito confuso, já que ele avança e volta no tempo livremente, aparentemente sem respeitar qualquer lógica. Em um momento, ele é uma criança, noutro um adulto, pra depois voltar a ser criança e testemunhar algum fato sobre o qual ele não consegue emitir qualquer juízo. Terminei a leitura certo de que não gostaria do livro.
A segunda parte se passa em 2 de junho de 1910. É narrada por Quentin Compson, irmão mais velho de Benjy, e que foi estudar em Harvard. É uma parte complicada, porque há muito fluxo de consciência. Quentin é claramente perturbado. Há muita culpa, muita confusão mental, e você ali, lendo e tentando decifrar o que acontece. Ele revive os momentos anteriores a sua partida para Harvard – a família teve que vender uma parte da propriedade para pagar seus estudos e ele se culpa por isso – e vaga pelo Campus de Harvard e pelas ruas de Cambridge.
“A mãe começou a chorar. ‘Se você acha ruim o Maury comer da sua comida, por que você não é homem o bastante para dizer isso na cara dele. Ridicularizar o Maury na frente das crianças, pelas costas dele.’
‘Absolutamente, ora.’ Disse o pai. ‘Eu admiro o Maury. Ele é da maior importância para a minha consciência de superioridade racial. Eu não trocaria o Maury por uma tropa de mulas. Sabe por quê, Quentin.’
‘Não senhor,’ disse Quentin.
‘Et ego in arcadia esqueci como se diz feno em latim.’ disse o pai. ‘Ora, ora.’ disse ele. ‘Eu estava só brincando.’ Ele bebeu e largou o copo e pôs a mão no ombro da mãe.”

“Quando a sombra do caixilho apareceu na cortina era entre sete e oito horas, e portanto eu estava no tempo de novo, ouvindo o relógio. Era o relógio de meu avô, e quando o ganhei de meu pai ele disse Estou lhe dando o mausoléu de toda esperança e todo desejo; é extremamente provável que você o use para lograr o reducto absurdum de toda experiência humana, que será tão pouco adaptado às suas necessidades individuais quanto foi às dele e às do pai dele. Dou-lhe este relógio não para que você se lembre do tempo, mas para que você possa esquecê-lo por um momento de vez em quando e não gaste todo seu fôlego tentando conquistá-lo. Porque jamais se ganha batalha alguma, ele disse. Nenhuma batalha sequer é lutada. O campo revela ao homem apenas sua própria loucura e desespero, e a vitória é uma ilusão de filósofos e néscios.”

Na terceira parte, que se passa em 6 de abril de 1928, conheci aquele que pra mim é um dos mais impressionantes personagens da literatura: Jason Compson, irmão de Quentin e de Benjy. Ele é muito, muito fulo com a vida. Seu ódio por não ser o que poderia ter sido atinge todos que o cercam. Ele é cruel, violento, amargo. Neste capítulo você começa a juntar melhor as peças e entender o livro, já que Jason deixa escapar muita coisa em sua irascibilidade.
“Voltei para a minha mesa e li a carta de Lorraine. ‘Amorzinho que pena que você não está aqui. Não tem festa boa quando meu amorzinho não está comigo estou morrendo de saudade.’ Deve estar, mesmo. Da última vez eu lhe dei quarenta dólares. Dei a ela. Nunca prometo nada a uma mulher, nem aviso a ela o que vou lhe dar. Com mulher é assim que se deve fazer sempre. Para ela ficar sempre na expectativa. Se você não conseguir encontrar nenhuma outra maneira de surpreendê-la, dê-lhe um soco na cara.”

A quarta parte se passa no dia 8 de abril de 1928, um dia após a primeira parte. É um Domingo de Páscoa, e Dilsey, uma das empregadas negras da família Compson, leva sua família e Benjy à igreja. O centro das atenções é Dilsey, mas nesta parte do livro, outros personagens ganham voz.
Feitos estes esclarecimentos sobre a estrutura do livro, preciso abordar novamente a minha relutância quanto à leitura de O Som e a Fúria. Eu havia esquecido que William Faulkner é um gênio, esta é a verdade.
Nunca um livro foi tão desafiador e ao mesmo tempo tão recompensador. Ler O Som e a Fúria é árduo, mas vale cada sílaba lida. Enquanto lia, eu lembrava muito dos exames de listening aos quais me referi no começo do texto. A cada página virada, o pensamento: não vou conseguir, não vou entender. E avançava, e aqui e acolá conquistava um prêmio: Ah!, então era isso! Ah!, ele está se referindo àquilo!
O Som e a Fúria tornou-se meu livro favorito de Faulkner e uma dos meus livros preferidos. Também é um livro cuja releitura é imprescindível, e pretendo fazê-lo ainda neste ano.
Meu “conselho”, se é que alguém me pediu: prepare-se, pois o livro é muito louco mesmo. E difícil. Mas você não se arrependerá. Faulkner sabe contar uma história, sabe escrevê-la, sabe o que contar e o que não contar. Já que falei de Hemingway, ele dizia que nunca subestimava a inteligência do seu leitor, por isso não entregava nada pronto. Meu livro, dizia ele, é como um iceberg: apenas 20% está visível, e cabe ao leitor mergulhar e desvendar o restante.
O Som e a Fúria não é “É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria e vazia de significado”, como diz o verso de Macbeth que inspirou o livro. É um imenso iceberg num rincão inóspito. Se já é difícil ver os 20% por causa da nevasca e do terreno acidentado, imagine a parte submersa... Mas vale a pena, leitor, vale a pena.


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Ana Flávia 01/12/2013

Não conhecia o autor nem a obra. Confesso que me empolguei pelo título, já que Shakespeare é sempre algo interessante, logo, uma citação a ele poderia também o ser.

O primeiro capítulo é bem intenso de ler. Com várias divagações do narrador e pulos no tempo, além de muitos personagens. Porém, no decorrer da narrativa, onde cada capítulo é o ponto de vista de um personagem específico, a leitura torna-se bem interessante.

Essa estrutura narrativa nos leva a pensar que a vida não pode ser mesmo contada como uma linha regular de acontecimentos. E que cada fato pode ser analisado de formas diferentes por pessoas diversas (inclusive elas sendo da mesma família).

A infância, definitivamente, é exposta como nossa primeira e última chance de sermos plenamente felizes, e que o restante de nossa história pode sim ser só som e fúria.
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DIRCE18 17/10/2013

Meu interesse pela leitura do "O Som e a Fúria" se deu a partir do momento que li a resenha feita pela Nancy. Li as demais resenhas. Uma após outra agucaram ainda mais meu interesse pelo livro e, ao tomar conhecimento, por meio resenha da Déa, que José Luiz Peixoto é declaradamente fã da literatura do Faulkner, fui rendida e "corri" para comprar o livro (em um sebo, claro – nas livrarias é muiiito caro, mais de R$ 100,00).
Porém, ao ler a narrativa inicial, brotada da mente do Benjy - um homem de 33 anos que abrigava a mente de uma criança de 3 anos de idade –, pensei: tudo bem que depois da leitura de TODAS AS RESENHAS, não esperava encontrar uma leitura fácil, mas não esperava me deparar com um emaranhado tão grande. Entretanto como também sou uma brasileira que Não DESISTE facilmente ...A segunda voz narrativa é a de Quentin que não facilitou nem um pouco – não foi nessa narrativa que encontrei o fio da meada. Já a terceira narrativa - a de Jason - me fez suspirar aliviada. Tanks,Jason. Sou obrigada a agradecê-lo apesar da sua vilania, do seu rancor, do seu ressentimento, da sua falta de escrúpulo, etc. etc... Quem detém a quarta narrativa é um narrador onipresente que nos transmite informações valiosas.
A protagonista do romance é a família Compson constituída por: Jason (pai), a matriarca Caroline, Maury (tio), Benjamin (Benjy)- na verdade Maury sobrinho-, Quentin (tio), Candance (Caddy), Quentin (sobrinha e filha de Caddy), Dilsey ( a amorosa e fofa criada negra – incluí-la na família foi um insulto, reconheço), Luster (filho da Dilsey e babá Benty). Ufa!
O enredo tem como contexto histórico o pós Guerra da Secessão que culminou com o fim da economia escravagista no U.S.A e que levou à derrocada muitas famílias aristocráticas sulistas, sendo elas representadas no romance pelos Compson. A dramaticidade decorre da traição de Candy que faz com que ela seja banida da família e com que seu nome se torne impronunciável. Candy a mais falada, mas que não tem voz na narrativa.
Todavia,no meu entendimento, o grande problema dos Compson, não foi graça ao comportamento da Candy e sim da necessidade que tinham de que tudo permanecesse imutável. Esse meu entendimento partiu da representação do Benjy ( ela não mudou – permaneceu uma eterna criança) e do final do livro: Benjy é tomado de crescente agonia quando tudo lhe parece irreconhecível e, ao Luster tomar outro caminho, onde poste e árvore, janela e porta e placa, cada um em seu lugar certo, os olhos azuis de Benjy se tornaram novamente vazios e serenos.
No final do livro, há um apêndice que, na minha opinião, deveria receber o título:"Reconduzindo ao Som e a Fúria", pois é um romance à parte.
Confesso que a leitura dessa obra e o meu entendimento foi para mim um triunfo – desde o meu tempo de estudante,quando fui apresentada a dona trigonometria, me deparei com algo tão complexo – mas, apesar desse meu triunfo, acho que não me aventurarei na literatura de Faulkner tão cedo. Isso que dizer que não gostei do livro? Claro que gostei, mas minha dificuldade de entendimento me deixou um tanto quanto estressada.
Quanto a minha avaliação apesar do comentário do Ashtoffen: "quem colocar menos de 5 estrelas é tão demente quanto o Benjy.”, eu colocarei 4 estrelas. Explicando: a obra merece todos os louros, porém, eu, que sou muito emocional fiz uma leitura racional e não me senti, em momento algum, enternecida.
Nanci 17/10/2013minha estante
Dirce, você é uma leitora de fibra!

A sinceridade de seus comentários torna sua resenha mais valiosa. Espero que leia outro Faulkner em breve, para afirmar sua opinião sobre esse autor singular.

Beijo.


DIRCE18 18/10/2013minha estante
Obrigada, Nanci.
Quem sabe? Vai que minha perplexidade se esvai e eu me animo.
Beijo


Arsenio Meira 25/02/2014minha estante
Eu li e reli sua resenha, e li e reli esta obra-prima da literatura do século XX.
Sua resenha Dirce é infinita, posto que honesta, fincada em seu sentimento, sem nenhuma complacência com nada que não seja o seu pensamento.
O Som e A Fúria tem o dramaticidade de todas as famílias decadentes do mundo. Faulkner esgota, exaure, mas nos dá a sensação de uma prosa poética que, cedendo seus rigores ao tempo, termina por compreender o tempo, passando a dominá-lo. Não deixe de ler o Faulkner! Abraços


Daniel 29/01/2015minha estante
Achei complicadíssimo, quase desisti. Como os leitores antes da internet conseguiam entender alguma coisa? Apenas com esforço próprio? Se não fossem as informações descobertas na rede (tantas! na primeira parte os cuidadores do Benjamin servem para definir o tempo da narrativa, infância, adolescência e idade adulta; existe O Quentin e A Quentin, etc, etc), sinceramente, acho que não teria ido adiante...
Dentre todas as resenhas, foi na sua que encontrei maior identificação, por causa desta frase: Não me senti, em momento algum, enternecida.
A gente fica meio frustrado de não ter sido tocado por uma obra inquestionavelmente reconhecida pela sua genialidade. É meio que como olhar para uma tela como O Nascimento de Venus e exclamar: ah, não gostei muito não... Equivale a colocar na cabeça um daqueles chapéus com orelhas de burro, sabe?
Concordo e sei que a Arte não precisa de explicação. Uma pintura, uma música ou um livro pode tocar a emoção de alguém e ser totalmente indiferente para outra pessoa. Quando uma obra é considerada um marco e ela não me causa nenhuma emoção genuína, o desconforto causado por isso me incomoda!
De qualquer forma, ainda prefiro os livros e as obras de arte em geral que NAO precisam de instruções ou de uma série de informações prévias para que possam ser compreendidas e, principalmente: que emocionem.




Valério 24/09/2013

Drama com ares de cotidiano
Assim como em Sartoris, Faulkner consegue dar ares de drama a eventos corriqueiros com a mesma facilidade que dá ares de cotidiano a dramas. O tom não muda ao tratar de um café da manhã tranquilo a um estupro incestuoso.
A história não tem um fim propriamente dito. Não da forma como estamos acostumados. Simplesmente se interrompe. Mas não nos sentimos órfãos. Muito pelo contrário, saciados. O epílogo termina de clarear pontos da leitura e trazer alguns novos à tona.
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carlos 20/01/2013

Lendo as primeiras paginas deste livro você se sentirá um completo idiota, pois não entende nada do que o personagem esta dizendo. É aí que o leitor mais desavisado se engana. Insista no livro, vá até o fim, então você descobrirá por que Faulkner é um gênio!
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Andre.Crespo 11/01/2013

O Som e a Fúria, William Faulkner
“Nenhuma batalha sequer é lutada. O campo revela ao homem apenas sua própria loucura e desespero, e a vitória é uma ilusão de filósofos e néscios”.

Escrito às vésperas da crise econômica mais feroz enfrentada pelos EUA, e deprimido após a recusa de um livro seu pelas editoras, o americano William Faulkner tira, das profundezas de suas decepções, um maravilhoso petardo da literatura.
“O Som e a Fúria” fala sobre a ruína gradual da família Compson através de quatro vozes distintas. A primeira, a mais complexa e – na minha opinião – a mais perfeita, é a do irmão retardado Maury – depois nomeado Benjamim. É uma parte complicadíssima, já que se trata dos pensamentos de um retardado, e sua forma de pensar é confusa, com pensamentos que vem e voltam e, se não houver cuidado, acaba nos confundindo. A partir de Ben, tem-se apenas uma pequena noção dos personagens e da situação da família. Tal parte é tão confusa que, em duas páginas seguidas, podem estar inseridos quatro tempos diferentes vividos por ele.
A segunda parte, contada por Quentin, o irmão incestuoso que foi estudar em Harvard, também é bem complexa. Este - para não dizer que também é maluco, no mínimo é perturbado -: lembra de vários acontecimentos passados de forma desordenada e nos deixa um pouco mais confusos. Pela construção complexa e simplesmente genial, essas são as duas partes que mais gostei. Além do fato da parte referente à Quentin ser surreal em certos momentos, remetendo-nos a algum pesadelo que nos perturba casualmente.
A terceira fica por conta de Jason filho, o rabugento, ganancioso e sovina irmão. Ele foi o único que ficou na casa – já que o irmão idiota não conta. É ele quem sustenta a mãe, o irmão e “seis negros que não fazem nada”, como ele mesmo diz, com o salário que ganha na medíocre mercearia em que trabalha. Graças a ele, temos oportunidade de nos depararmos com as situações mais hilárias e absurdas do livro. Jason é uma pessoa irritante, mesquinha, que só pensa em si e não sente nada por ninguém. É essa frieza, junto de sua rabugentice, que faz dele um dos personagens principais da história.
A quarta e última voz – narrada, aliás, em terceira pessoa – é a de Dilsey, a empregada negra e verdadeiro esteio da família Compson. É ela quem cuidou, ao longo dos anos, da mãe e pai Compson, dos filhos Compson e da sobrinha Compson rebelde, além de ter que tomar conta de seu marido e filhos. É a parte mais bela e melancólica, de uma tristeza sutil, que beira à poesia.
“O Som e a Fúria” talvez seja um dos dez melhores livros de todos os tempos. Seja por sua linguagem inventiva e fantástica, seja por sua fluidez impressionante, seja por sua geniosidade, seja por seus personagens complexos e maravilhosamente construídos. É uma obra que deve ser lida a cada cinco anos, para que se possa compreender melhor suas minuciosidades. É uma história contada aos poucos, espicaçada bem lentamente, confusamente. O genial da obra de Faulkner reside justamente nesse caos: não se entende nada no começo, entende um pouco mais depois, e, com o passar das páginas, as coisas vão ficando mais claras, como ocorre com um quebra-cabeça.
No meio de tanta desconexidade e confusão – genial e propositalmente construídas - que se construiu um livro perfeito, que deve ser lido, relido e re-relido quantas vezes seja possível. O prazer da leitura será cada vez maior.
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Ricardo Santos 29/12/2012

meu livro predileto
esse livro me marcou profundamente. ele deixa o leitor perdido. mas isso é uma boa coisa. porque o ritmo e a experimentação da linguagem estão a serviço da trama e principalmente dos personagens. o leitor deve ter paciência para acompanhar os discursos em 1ª pessoa de cada protagonista. São monólogos muitas vezes confusos, contraditórios, violentos. Mas vale a pena. O texto é de uma beleza rara e de uma força que te deixa pensando nele, no drama e no destino dos personagens muito tempo depois de tê-lo terminado. Ler esse romance é um desafio literário, mas no final o leitor será plenamente recompensado.
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Déa Paulino 29/04/2012

Demorei muitos meses para me convencer de que precisava ler Faulkner pela primeira vez, e alguns outros meses para decidir tirá-lo da estante. O primeiro incentivo veio do fato de o José Luis Peixoto, um dos meus autores favoritos, ser declaradamente fã da literatura do Faulkner (e o Peixoto é daqueles que, como eu, marca na pele as declarações de amor).
Pouco tempo depois, encontrei a edição maravilhosa da Cosac Naify, editora que tem meu amor eterno, - e nem me paga para escrever isso - pela metade do preço. Foi assim que o livro chegou até mim.
O Som e a Fúria foi um caso raro de paixão despertada mais por admiração que por identificação ou pertencimento.
Gosto do fato de o livro ter sido escrito durante um período de reclusão, após um fracasso do autor, e me interesso pela temática abordada. As infelicidades familiares, na literatura, me atraem; e as manifestações do racismo, hoje velado como se fosse moralmente inaceitável, são tão chocantes nos livros quanto na padaria ou na fila do banco.
As primeiras páginas não foram fáceis. A primeira parte do livro é constituída por diálogos que muitas vezes parecem ininteligíveis. A leitura das páginas narradas por Benjy, que sofre deficiência mental, foi de uma diculdade angustiante.
Superado o obstáculo, que posteriormente justifica-se necessário e desejado, agradeci, a cada virada de página, pela oportunidade de ter em mãos parte da obra um autor que - a despeito dos prêmios ou títulos que, muitas vezes, podem parecer assustadores - foi genial.
Ler O Som e a Fúria é, além de desfrute, uma aula. São muitos livros em um só. Muitos modos de escrever e de descrever. Um delicioso passeio por diferentes estilos e pontos de vista.
As estórias das personagens de O Som e a Fúria são tão tristes quanto a maior parte das relações humanas, se observadas com atenção. Sob o olhar de William Faulkner, a tristeza, neste livro, tornou-se bela.
Me apaixonei pelo autor, por isso quero (ler) mais.
Ronnie K. 27/11/2012minha estante
Para mim um dos melhores romances de todos os tempos! Legal que você tenha gostado. Beijos.




Giovanna Mayer 23/07/2011

Surpreendente
Peguei esse livro ao acaso para ler em uma viagem para correr a Maratona do Rio de Janeiro. Fechei o livro antes de as aeromoças servirem a comida no avião. Tentei ler mais um pouco durante a viagem e desisti. Ora, ler um livro não pode ser mais difícil que correr uma maratona...Pois, no final de semana do dia 16 de julho de 2011, foi isso que aconteceu. Os quarenta e dois quilômetros viraram brincadeira se comparados com o desafio de entender a obra de Faulkner.
Quando voltei para casa, pesquisei sobre o livro e resolvi dedicar-me a ele. Lia cada trecho várias vezes, sublinhava, voltava. Em poucos dias, superei os dois capítulos iniciais e pude desfrutar da tranquilidade instigadora dos dois últimos capítulos.
Uma das melhores coisas que fiz em 2011!
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BIU VII 11/07/2011

Ecos do passado
O Som e a Fúria é sensacional - coisa de gênio(W. Faulkner), do estranhamento inicial a trama aos poucos vai se delineando, se desvendando em palavras, frases, período, capítulos até que a estória se revela em sua plenitude.
Tenho vontade de reler o livro ,agora conhecendo todos os personagens, mas ao mesmo tempo tenho medo de perder o encanto e a magia da estória que é o que ficou guardado na minha memória como palavras soltas, choro (Benjy,quem é Bejamim?), frase isoladas, ecos do passado, fragmentos que se unem, promovendo um endesamento tenso do drama que se revela no final. Talvez tenha sido o propósito do autor e talvez eu acate o seu desejo, mesmo que a vontade de conhecer melhor os personagens persista.
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ReiFi 15/04/2011

O Som e a Fúria
Por José Reinaldo do Nascimento Filho

Terminei.

“A vida é só um vulto, um pobre ator, que se pavoneia e choraminga num momento, sobre o palco, e depois não é mais ouvido. É uma fábula, contada por um idiota, cheia de som e de fúria, significando nada“.

Esse é o trecho inspirador, retirado da peça Macbeth, de William Shakespeare, que move a narrativa Faulkniana em O Som e a Fúria. A obra é composta por cinco partes distintas. As três primeiras são narradas em primeira pessoa pelos três personagens principais: Benjamin, o idiota de trinta e três anos; Quentin, estudante em Harvard, apaixonado pela irmã, Candace; e Jason, o indômito, racista e último descendente da enxovalhada família Compson, que teve como única herança o ódio e o nome do falecido pai. A quarta parte, agora em terceira pessoa, e, juntamente com a terceira, muito mais tragável, focaliza a velha empregada “preta”, Dilsey. E, finalmente, o livro se encerra com um genial e necessário apêndice (graças!!!), no qual a genealogia dos Compson é descrita de forma concisa.

Tentemos pensar as personagens a partir das suas falas ou de suas ações e somente isso:

Benjamin: “Então pôs-se a berrar. Berrava mais e mais, a voz cada vez mais alta, quase sem pausas para respirar. Havia mais que espanto naquele grito, havia horror; choque; uma agonia sem olhos e sem língua; pro som …” (p.310)

Quentin: “As mulheres são assim elas não adquirem conhecimento sobre as como nós elas nascem com uma fertilidade pratica de desconfiança que gera frutos de vez em quando normalmente com motivo elas têm uma afinidade pelo mal dão ao mal o que lhe falta puxa o mal para junto delas de modo instintivo como quem puxa as cobertas ao adormecer fertilizada a mente para o mal até ele cumprir se objetivo tenha este existido o não” (p.93)

Jason: “O que a senhora pretende fazer?” pergunto, empurrando a carta para ela.

“Sei que você se ressente do que eu dou a ele, ela dia…”

“O dinheiro é seu”, eu digo. Se você quiser dar todo pros pássaros, não é da minha conta.

“Ele é meu irmão”, a mãe diz. “É o último dos Bascomb. Depois que nós dois morrermos, não vai restar nenhum”.

“Vai ser terrível pra alguém, imagino” (p.218)

Não podemos esquecer da outra família que acompanha e modifica os Compson diretamente no decorrer do romance: os empregados “pretos” – Luster e T.P -, cuja matriarca, Dilsey, é testemunha ocular da degradação dos brancos. Como ela diz no final: “Vi o começo e agora vejo o fim”.

O Som e a Fúria é um livro que requer certa predisposição do leitor. Aviso logo: você não encontrará, definitivamente, leitura fácil. A narrativa, por exemplo, não é linear. A primeira parte do romance, narrada pelo “retardado”, e a segunda, pelo “incestuoso” Compson, são pensadas e desenhadas a partir do complexo “fluxo de consciência”, no qual Faulkner é mestre (e Virginia Woolf, James Joyce, Samuel Beckett, Clarice Lispector e Guimarães Rosa). Você, caro leitor, precisará, nesse momento, trabalhar como um detetive: apanhe pistas, junte fragmentos (aparentemente inúteis), monte os puzzles. Não deixe passar nada. Releia – se for preciso (e será preciso!).

Predisposição e paciência. Leiam e entendam.

P.S.: Ah, mais uma coisinha: se você for apaixonado por “finais fechados”, não leia esse livro.

P.S.: Ah, outra coisa: Obrigado Leonardo, Eduardo e Cosacnaify pelo presente

Para saber mais, acesse:http://catalisecritica.wordpress.com/2011/04/14/o-som-e-a-furia-%E2%80%93-william-faulkner/
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