Bia 18/09/2024
Subsolo execrável
"Eu tinha um ódio tremendo deles, embora, talvez, eu fosse ainda pior que eles."
Memórias do Subsolo é o segundo livro do Dostoiévski que leio, e por gostar muito do anterior, criei bastante expectativas, e me decepcionei um pouco. Esse livro não me cativou tanto, e acredito que não o tenha entendido muito bem, mas ainda sim é bom.
Ele é dividido em duas partes, a primeira, intitulada "Subsolo", que o narrador exoõe diversos devaneios próprios, que eu particularmente achei um tanto confuso, mas em meio a confusão, há diversos trechos interessantes e boas reflexões.
Já na segunda parte, intitulada "A propósito da neve molhada", o narrador conta um pouco mais detalhadamente sobre seu passado. Nessa parte o livro se torna mais compreensível, porém é uma grande vergonha alheia, o protagonista é simplesmente insuportável, mas essa é a exata intenção do autor, trazer um personagem desprezível.
Desde o início, o narrador se mostra ser uma pessoa chata e amargurada, tanto que a primeira frase do livro é "Sou um homem doente? Sou um homem raivoso. Sou um homem sem graça nenhuma". Não é a intenção do autor mostrar uma pessoa boa, e sim uma pessoa desagradável, seus pensamentos, seus devaneios, suas memórias do subsolo.
Ao meu ver, a intenção do livro é mostrar uma face do ser humano, que nem sempre é "belo e sublime". O narrador, apesar de ciente a sua desgraça, ainda se achava superior aos outros. Narcisista, amargurado e irritante. Ele é a representação de um lado muitas vezes ocultos de nós mesmos, nosso desespero, a amargura e a superioridade encarnados em uma pessoa.
Por fim, não foi uma leitura que me agradou tanto, e me deixou confusa diversas vezes. Mas a escrita e os pensamentos de Dostoiévski são fantásticos. Mesmo não tendo me cativado tanto, há inúmeras passagens que valem a pena.