Danielle.Brito 24/05/2020
Albert Camus (1913-1960) nasceu na Argélia, de cidadania francesa, foi escritor, romancista, ensaísta, dramaturgo, filósofo e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1957. Considerado representante do existencialismo, corrente filosófica que se propõe a analisar o ser humano em seu todo (mente, cognição, sentimentos, corpo, comportamento e ações), Camus trabalhava em suas obras o existencialismo do absurdo, ou seja, a ausência de um porquê. Ele problematizava a liberdade do indivíduo por meio de uma narrativa sem uma essência prévia, onde não há um plano a ser seguido ou um destino certo, há tão somente um cenário desesperador e pessoas em meio a ele tentando superá-lo.
Em “A Peste”, Camus segue por esse caminho, ao narrar a chegada da peste (bubônica e pneumônica) à cidade de Orã na Argélia. A história é contada por um médico, Bernard Rieux, que acompanha e trata os doentes do começo ao fim do ciclo. A peste tem início com o aparecimento na cidade de muitos ratos mortos e, posteriormente, as pessoas começam a adoecer e morrer e é identificada a doença.
Quando a situação começa a sair do controle, pela grande quantidade de doentes, as autoridades públicas resolvem fechar a cidade, ninguém entra e nem sai. Os habitantes passam a viver em uma cidade sitiada pela peste, sem poder escapar da situação desesperadora, no início vemos o pânico das pessoas diante da nova realidade, que ao longo da narrativa vai se transformando em resignação. O sofrimento causado pela doença acaba se tornando parte da rotina das pessoas.
É nesse contexto que Camus mostra que diante do sofrimento as pessoas não têm forças para se revoltar contra esse sofrimento ou, em uma interpretação livre, a pior face das pessoas não está em sua condição miserável, mas em não se rebelar contra ela. Diante do desespero, tornar o sofrimento como rotina ou hábito torna a resignação desumana, uma condescendência imoral.
“A Peste” não é um romance comum, quem ler o livro sob essa perspectiva não assimilará a sua essência e, provavelmente irá se decepcionar com a leitura. É necessário encará-lo com espírito reflexivo, disposto a problematizar e ponderar os fatos que a obra apresenta. As interações do médico Rieux e o padre Paneloux, a meu ver, são momentos do livro que permitem muitas reflexões, pois contrastam as visões científica e religiosa de um mesmo fenômeno.
Confesso que tive dificuldades em concluir esta leitura (levei 16 dias), principalmente por causa das semelhanças dela com a realidade que atualmente estamos vivendo, porém o livro me ajudou bastante a refletir. Por isso, recomendo a leitura deste clássico da literatura. É uma obra de grande valor!