Steph.Mostav 20/04/2021"I would prefer not to."Na primeira leitura, não cheguei a associar os autores, mas depois de reler, foi espontâneo associar essa novela de Melville com o tipo de histórias que Kafka escreveu. Bartleby pode ser visto como Kafka antes de Kafka, como Borges chamou de "fantasias do comportamento e sentimento". É uma narrativa do exaspero de um narrador que não se nomeia e cuja vida é tão desinteressante que nem mesmo ele nos dá mais detalhes sobre si mesmo além dos necessários para contextualizar a chegada de Bartleby. Porque é através do contraste com a vida tranquila e sem grandes reviravoltas do narrador que a presença de Bartleby se torna mais estranha e hipnótica. No contexto de alta exploração de Wall Street, a negação passiva de Bartleby de desempenhar o que seu patrão lhe pede é ousada a tal nível que contagia o próprio narrador. Ele não sabe o que fazer com esse homem que não realiza mais nenhuma tarefa e passa a até a expressar-se como ele e sentir compaixão de sua condição; este mesmo homem que em certo trecho da novela pensou com amargura que um reles escrivão poderia viver mais que ele. O comportamento de Bartleby só é visto como absurdo porque ele não segue a lógica de uma jornada de trabalho exaustiva (como era antes dele "preferir não fazê-lo"). Além disso, mais que o enredo, o que também impressiona é a forma de narrar desse homem que passa a questionar todos os raciocínios preconcebidos que tinha a respeito do empregado quando é confrontado da maneira mais pacífica possível.
"Basta que um único homem seja irracional para que os outros também o sejam, e o mesmo aconteça com o universo."