Impressões. E digitais. 31/12/2020
Bartleby, o escrivão
??Bartleby, o escriva?o? e? um livro literalmente amarrado. E? preciso soltar as linhas que o prendem pela lateral para abri-lo e, uma vez aberto, e? preciso rasgar as pa?ginas para encontrar o texto escondido pela gravura de um muro. O obsta?culo a? leitura e a repetic?a?o da atividade bem nos lembram a conduta de Bartleby, o escriva?o de uma firma da Wall Street ? Rua do Muro, em portugue?s. Penso eu que tambe?m representam os entraves burocra?ticos da papelada de um advogado que trabalha com ac?o?es, hipotecas e propriedades, tal como nosso narrador, chefe da repartic?a?o.
?Apesar de acostumado a esse ambiente, nosso narrador sem nome ? talvez porque pudesse ser qualquer advogado de Wall Street de 1853 ?, sabe que falta vida entre aquelas paredes brancas e mesas dobra?veis. E talvez por isso tenha escolhido contar a histo?ria do nosso antagonista.
?Num estilo que lembra o kafkaniano ? apesar de Kafka ter nascido va?rias de?cadas depois ?, o humor tragico?mico da? o tom, e sentimos o inco?modo do incomum, do ati?pico, num cotidiano antes religiosamente inalterado. Pela simples frase ?acho melhor na?o?, Bartleby perturba o ritual de Wall Street ao se negar a fazer aquilo que acha que na?o deve, sem maiores explicac?o?es ? e? um funciona?rio um tanto caprichoso, na?o no sentido de esmero.
?Talvez uma cri?tica aos ditames da e?poca, ou simplesmente algue?m que diz o que todos queriam dizer, Bartleby e? uma pedra no sapato da mecanicidade com que, na?o raro, levamos a vida. Por isso nos incomoda tanto: embora seja um personagem simples, sua teimosia nos deixa perplexos frente a descoberta do quanto podemos ser passivos em situac?o?es as mais diversas.
? Diferente de Moby Dick, do mesmo autor, este e? um livro curto. Mu?ltiplas sa?o as interpretac?o?es.
?Deixo a cargo de voce?s outras percepc?o?es e na?o me alongo mais. Acho melhor na?o.