Gu Henri 31/01/2018
A grande audácia de Bartleby é ser audacioso em rejeitar qualquer audacidade. Não fazer, não ser, não querer, não se importar; é isto que ele prefere. É aí que reside todo o questionamento da existência de Bartleby. Entre o "ser ou não ser" ele preferiu o "não ser". O não agir, talvez porque o agir fosse em vão, talvez fosse sem sentido, e o não agir traria a ele sentido à vida e à sua existência.
A melancolia da obra é angustiante, tentamos página após página encontrar essa motivação de Bartleby, porém neste nosso intento háverá apenas especulações, como em toda grande obra. Bartleby é o ponto culminante da indagação de um mundo que é regido pelo capitalismo e, que tem como Wall Street a Meca do capitalismo.
A grande questão que norteou o mundo moderno desde La Boétie; o obedecer.
Agir sem pensar, como mera engrenagem da máquina burocrática, talvez seja, o não existir.
Temos consciência da nossa existência quando sabemos que existimos no mundo. A consciência é determinante. O COGITO ERGO SUN de Déscartes na entrada da modernidade já confirmara isso. Se se pensa, logo temos consciência desse nosso existir no mundo. Ao adquirirmos esta consciência, também devemos lembrar da servidão (obediência) de que La Boétie se indaga.
Não basta existir e ter consciência disto, é também necessário agir com consciência. Ao executarmos ações impostas não somos nós mesmos, somos o desejo de outrem. Para Bartleby; ser consciente da existência é também ser consciente que se obedece. Saber que não se é livre, pois que obedece, e que a recusa de obedecer trará sérios problemas à existência.
Bartleby toma consciência do que significava sua vida. A mera aceitação de cumprir ordens, um organismo programado para agir segundo a vontade que não é sua. E assim o fez, até se cansar, por perceber através de sua consciência que, sua existência fora em vão, seu existir fora sem sentido. Esse obedecer o fez viver de um tal modo que anulou o sentido real de sua existência, anulou a sua vida, anulou sua liberdade para agir de acordo com a sua vontade e consciência, trouxe a ele uma vida sem significado, sem qualquer sentido naquilo que exercera anteriormente. Não bastou existir e pensar nesta existência, era preciso ir além, era preciso desobedecer para romper e dar sentido ao existir. No caso, quando se percebe como foi gasto a existência uma atitude extrema se cria. Podemos traçar um paralelo com Ivan Ilitch, que no leito de morte vira que sua vida fora uma farsa, uma vida vivida para meras convenções, e de acordo com elas se encenar o papel.
Quando se obedece sem se questionar acerca das coisas nós nos tornamos peças de uma máquina que nos aprisiona, somos movidos por outras peças, e estas outras peças são movidas por outras, até algumas, devido a exaustão, serem substituídas por outras e, ainda assim, continuar a máquina a trabalhar sem parar, o ciclo nunca é interferido. E a máquina e todas as peças trabalham, mas, já não se sabe mais para quem ou pra quê. Qual o sentido? Como romper com esse ciclo vicioso?
Somente se existe quando há sentido nesta existência. Só se existe quando as vontades e a ação provém da consciência. Ao perceber nossa existência, devemos dar plenitude para que haja um sentido, somente há o caminho da desobediência para se chegar ao existir, o outro caminho, o da servidão, nos leva apenas a sermos peças. Ao homem foi dada a faculdade da consciência, é pela razão que sabemos que existimos, e é pela razão que também damos conta que podemos desobedecer, pois, não há maior falta de consciência do que o agir sem significado.