Gefferson.Farias 25/06/2023
Crime e Castigo: Dostoiévski e a Busca Pela Redenção
(Contém alguns spoilers)
O tema do romance pode ser resumido nas dramáticas palavras que lhe dão título: a primeira parte do livro fala da preparação e execução
do crime, e as cinco partes seguintes relatam a tortura psicológica que aflige Raskólinkov após o assassinato. Para a crítica, é difícil afirmar com certeza as razões que levaram o autor a dedicar um romance inteiro à relação entre uma ação má e a punição que lhe é devida. Uns dizem que o romance foi motivado pela convivência que o autor teve com seu pai, homem irascível que, segundo alguns biógrafos, foi morto pelos servos que maltratara por anos a fio. Outros afirmam que a experiência na prisão foi decisiva: detido por envolvimento com grupos revolucionários, Dostoiévski foi condenado à morte, mas teve a pena comutada em prisão. Meditar sobre a ação do czar, que lhe condenara à morte e depois lhe preservara a vida, foi, decerto, uma experiência profundíssima sobre moralidade e justiça. Além disso, o convívio com toda sorte de criminosos teria feito o autor investigar a natureza da mente criminosa e meditar sobre qual seria a maneira certa de aplicar-lhe a devida punição. Durante o enredo, o autor frisa a diferença entre o ?pré? e o ?pós? assassinato. O crime é realizado por Raskólnikov de modo rápido e até casual, ocupando uma única parte do romance. A punição, por sua vez, é total: a relação de Raskólinkov com amigos e familiares se deteriora, a saúde do criminoso torna-se frágil e as autoridades rapidamente o tomam como suspeito do crime. Atormentado pelo peso da culpa dos assassinatos, Raskólnikov ora orgulha-se dos crimes, ora é engolido pelo remorso. Dostoiévski, cristão à sua maneira, encontra uma única saída para o personagem: expiar a culpa através da religião. No contato com Sônia, o protagonista conhece as Escrituras e, aos poucos, percebe a infâmia dos seus crimes e a importância de entregar-se ao justo castigo dos homens.
As interações entre Sônia e Raskólnikov. O protagonista outrora fora um rapaz interiorano, mas, após viver e estudar em Petersburgo, tornou-se ambicioso, inescrupuloso e orgulhoso, movido por ideias revolucionárias extravagantes. O criminoso, que se julgava homem da categoria de Napoleão e César, temia ser enfrentado pela senhoria, era sustentado pelas pobres mãe e irmã e só utilizou da força para agredir duas mulheres indefesas. Sônia, por sua vez, era simples e abnegada. Para ajudar a sustentar a madrasta histérica e o pai alcoólatra, aceitou prostituir-se, ainda que contra suas crenças religiosas. Mesmo vivendo as humilhações da profissão, mantinha-se pura e lutando por uma consciência reta, sem maldizer o destino nem culpar os homens pelo seu infortúnio.
Crime e Castigo é um clássico universal, pela profundidade psicológica dos personagens. Dostoiévski soube explorar, como nenhum outro escritor de sua época, as mais diversas facetas da psicologia humana sujeita a abalos e distorções. Um romance, merecidamente cultuado em todas as partes do mundo, a prosa de Dostoiévski é muito boa, às vezes engraçada. Não vou me aprofundar tanto, apenas recomendo a leitura!