edzlke 11/05/2023
"Uma criatura viva quer, antes de tudo, dar vazão a sua força"
Crime e Castigo não é uma história de investigação, não é um romance policial convencional no qual o foco é a busca pelos fatos e o drama do criminoso em esconder-se.
Raskolnikóv é, antes de se tornar um assassino, um filósofo. De acordo com uma teoria sua, existem dois tipos de homem, o extraordinário – Napoleão, por exemplo – e o ordinário – todo o resto do mundo. Na esteira desse pensamento, os homens extraordinários têm o direito de tomar para si o que for de sua vontade, enquanto que os homens ordinários estão presos às convenções, à moral, e são incapazes de reagir. De Dostoiévski deriva a teoria nietzscheana, sobre a qual tanto li há alguns anos para produzir alguns artigos: a teoria do super-homem e da vontade de potência, que justifica o título dessa resenha.
Raskolnikóv assume que mata porque "quis ousar", porque quis dar vazão à sua força, porque acreditava-se um super-homem, porque tinha vontade de potência.
No entanto, acompanhamos a descoberta do personagem principal sobre si mesmo, sobre sua condição de homem convencional, investido das mesmas leis morais que os demais homens que ele tanto despreza.
Ao mesmo tempo em que é frio, malvado e irônico, Raskolnikóv dá amostras de sua bondade dando um dinheiro do qual ele mesmo muito precisaria. É essa vontade de ser melhor que os "insetos"que o cercam, como ele mesmo chama as pessoas de sua época, que o motiva a assassinar a velha agiota. O estudante não quer assassinar aquela velha; quer assassinar o princípio da usura, do aproveitamento sobre os mais pobres.
Esse é um livro denso, você demora a engatar uma leitura concentrada, mas depois os personagens entram profundamente em sua cabeça e é difícil esquecê-los e não querer estar lendo Crime e Castigo.
Outros livros li por longo tempo e não me marcaram tanto quanto este. Há algo na escrita de Dostoiévski que pesa sobre a alma e não a deixa se esquecer.