spoiler visualizarRick Shandler 25/05/2022
O dia em que a poesia derrotou um ditador - Antônio Skármeta
Belo livro. Mais do que isso, importante. Traz esperança e no mínimo uma vontade de também experimentar esse sentimento de libertação, de felicidade, de euforia. Uma história que tem tudo para ser ficção, porém surpreende ao ter seu cerne na realidade.
Dá pra acreditar? Uma ditadura violenta, sanguinolenta, nojenta, grotesca (coloque aqui todos adjetivos ruins que vierem a cabeça) acabando dessa forma? Um arco-íris ao som de Florcita Motuda. Um povo maltratado, inerte, sem perspectivas ou esperanças se unindo em uma pequena palavra. Dá pra acreditar? NO! Mas, é verdade. Pelo menos foi a verdade.
A forma leve em que o texto é conduzido está de acordo com sua mensagem. Caso ele fosse escrito de forma diferente seria difícil construir essa aura de felicidade eufórica. Entretanto, discordo de quem se queixa por mais profundidade.
Explico. O mito da caverna aparece diversas vezes ao longo do livro. No meu ver, Skármeta nos colocou em sua caverna para nos contar essa história de final feliz. As sombras estão lá: carros sem placa, um pai desaparecido, uma clavícula quebrada, um professor degolado (leve esse livro, não?). Caso queiramos sair da caverna, ou já tenhamos feito isso, não faltam referências nesse livro para entender o que aconteceu no Chile até que a alegria chegasse.
Skármeta brilhantemente une as duas pontas. De um lado, traz a celebração e toda felicidade de um povo que superou um momento ditatorial tão difícil. De outro lado, traz a memória das atrocidades cometidas pelo regime. Estas apresentadas de forma sútil ao longo do texto, de modo a não roubar o protagonismo da alegria, mas, ao mesmo tempo não serem esquecidas.
Ótimo timing para para ler essa obra. ?O dia em que a poesia derrotou um ditador? é um serviço à humanidade. Serviço do qual estamos precisando.