Sofia 23/07/2015
Testando, tentando. Um, dois, três.
Em meio a uma narração atemporal, Chuck Palahniuk introduz a história da Crendice, seita norte americana que vive segundo suas regras e rejeita os padrões impostos pela sociedade. Assim, os primogênitos da família, chamados de Adam, devem se casar e permanecer no território da Igreja, enquanto os outros filhos, os homens apelidados de Tender e as mulheres de Biddy, saem do isolamento de sua religião para viver no mundo afora e trabalhar conforme um cronograma que define as suas atividades para suas vidas inteiras. Essa rotina deve ser mantida até o momento que sua entidade chama os crentes para seu encontro em um dia de suicídio em massa chamado de Libertação, o qual dizimou quase toda comunidade da Crendice deixando cerca de 100 sobreviventes nos Estados Unidos.
Tender Branson, um dos sobreviventes da Libertação, trabalha conforme os princípios que lhe foram ensinados nos cuidados de uma casa cujos patrões ele nunca conheceu. Toda a pressão dos padrões imposto pela sociedade, pela culpa de ter sobrevivido a Libertação e a rotina vivida ao lado de Fertility, personagem que vê em seus sonhos previsões do futuro, o protagonista vê como única alternativa seqüestrar um avião e derruba-lo para se matar, conforme narra sua história na obra de Palahniuk. "Cada respiração é uma escolha. cada minuto é uma escola. Ser ou não ser".
Através de uma narrativa inédita e inacreditável, Sobrevivente carrega uma crítica ácida ao meio social, seus padrões e suas influências, de modo que até os leitores se sentem angustiados de viver e presenciar uma sociedade com tantas falhas, falsidades e ignorâncias. "Não interessa o que você faz. Se ninguém notar, sua vida vai se resumir a um grande zero. Nada. Uma nulidade".
Embora seja uma religião fictícia, a trama é simbólica pois transmite vários aspectos da religiosidade no choque de culturas entre os crentes e a sociedade, as influências dessa na vida de seus membros e na distorção de seus princípios pelas pessoas e outras religiões ao ponto de transformar a crendice em algo hediondo, quase monstruoso aos padrões considerados normais na atualidade.
É uma trama indicada a qualquer um que estiver disposto a refletir e analisar nas diferenças e metáforas criadas pelo autor como aspectos da condição social hodierna, sejam elas bonitas, agradáveis ou lamentáveis. "Em uma noite sem lua nem estrelas não dá para ver nada, mas pode-se imaginar tudo".