LivroAleatorio 08/05/2020
Essa foi a minha primeira leitura do Jules Verne/ Júlio Verne e entendo agora porque ele é reconhecido como o pai da ficção científica. Ele construiu uma história sobre uma viagem submarina quando os submarinos existentes e os projetos de submarinos não chegavam nem perto de ser o que o Náutilus era. E traz detalhes do conhecimento científico de sua época bem como de sua imaginação para descrever minuciosamente detalhes do submarino, das espécies marinhas, dos cálculos, da mecânica e da física, junto com a narrativa da história. Sem dúvida a narração no polo sul é de deixar qualquer um sem fôlego!
Acho que um dos personagens mais intrigantes dessa obra é sem dúvida o Capitão Nemo, do qual nós temos infinitas dúvidas e quase nenhuma resposta, tornando-se um personagem muito misterioso. Ficamos nos perguntando a todo momento de onde veio e pra onde ele vai, o que ele deseja com tudo aquilo.
Um incômodo muito forte que o livro me trouxe foi na relação dos personagens com a vida dos animais em geral. Apesar de descrever as maravilhas, as belezas, raridade das espécies, parece que o único impulso que eles tem ao avistá-las é o de enchê-los de balas, matá-los, exterminá-los, caçá-los ou pegá-los para si (obviamente mortos), com descrições de seus gritos de agonia e do mar de sangue gerado. Acho uma relação muito conturbada, principalmente porque o próprio Capitão Nemo, relata que fugiu da chamada civilização do século XIX, conhecida ainda por suas colônias, exploração, matança de inocentes etc, mas, ele mesmo refaz essas relações com os seres que o cercam, ou seja, ele fugiu de algo que ele está praticando da mesma forma?
***
"-Sim o amo! O mar é tudo. Cobre sete décimos do globo terrestre. Seu ar é puro e saudável. É um imenso deserto, onde o homem nunca fica solitário, pois sente a vida vibrando por todos os lados. O mar é somente uma existência sobrenatural e maravilhosa personificada. Não é nada além de amor e emoção; é o "Infinito Vivo", como um de seus poetas disse. Na verdade, Professor, a Natureza se manifesta nele em seus três reinos - mineral, vegetal e animal. O mar é o vasto reservatório da natureza. O planeta começou com o mar, por assim dizer; e quem sabe não termina com ele?Em sua suprema tranquilidade. O mar não pertence a déspotas. Sobre a superfície, o homem ainda pode exercer suas leis injustas, brigar, fazer um ao outro em pedaços, e se deixar levar pelos horrores terrestres. Mas, dez metros abaixo do seu nível, o reino do homem cessa! Viva o seio das águas! Só há independência! Aqui, não reconheço nenhum mestre! Aqui sou livre!" (pág 55)