spoiler visualizarMay_Lu 02/06/2021
Isso é menos uma resenha e mais uma coletânea de comentários aleatórios sobre a obra.
Acho que o título desse livro resume muito bem os temas da história. Essa ideia de um amor cego, de fazer tudo pelo amor, de sofrer por ele. O amor, aqui, assume um papel cínico, clássico, trágico e sonhador. O autor parece querer trabalhar com diversas facetas do tema, explorando-o em seu elenco. E, te falar, os caminhos que ele investe são muito curiosos. Seja um amor completamente asqueroso e condenável, como o de um pedófilo com uma criança, até um amor puro, daquele dos livros clássicos, que a pessoa se guarda para ficar com aquele único sujeito. A profundidade da obra, eu diria, esta em mostrar esses diversos lados do amor e conseguir, ainda assim, criar uma grande mensagem final o envolvendo.
Lavínia é uma personagem muito interessante nesse livro. De começo pensei que o autor faria com que ela fosse mais uma figura, uma presença. Mas no fim, por mais que eu continue pensando que a personagem simbolize algo nessa obra, o autor conseguiu fazer com que ela não se tornasse mero símbolo, e sim uma pessoa. E fazer com que ela seja uma pessoa torna toda a mensagem final bem trágica e pesada.
O autor descreve a condição de Lavínia no final do livro como sendo "Sempre mansa e indistinta. Faz o que mandam, faz o que pedem." Penso eu que esse foi o arco arrancado da personagem. Ela, a maior vítima da história, passou a vida tentando se rebelar quanto ao masculino, mesmo o amando. O arco ia ser um processo de libertação, de fazer o que ela quer do jeito que quiser, mas a força masculina a impede de concluir isso. O pastor, o homem a quem ela sente que deve tudo, joga ela num tratamento por ela fugir do padrão esperado pelo próprio pastor. Lavínia, então, se torna umas casca vazia, perfurada por homens e com a vida acabada. Vira o que os homens queriam dela, a moça que "faz o que pedem". Talvez, nesse sentido, a resolução final deixe a desejar. Digo, o protagonista é o caminho que Lavínia queria, mas, ainda assim, aquele beijo no final, por mais que demonstre uma melhora, me deixa um pouco incomodado. Digo, é uma mensagem bonita, mas o incomodo, penso eu, deve nascer de frases anteriores, onde o personagem diz que a Lavínia ali no hospital parecia uma criança. Daí, dias depois ele beija uma... criança? Sei lá, é uma interpretação meio besta, talvez. Independente dela, o arco interrompido de Lavínia parece, no final, ter a abertura para se fechar. O protagonista se torna um tipo de salvador. E isso me incomoda um pouco. (Por mais que eu acabe gostando dessa mensagem - brega, talvez - de que o amor vale a pena, apesar das dores.)
Enfim... sei lá, eu ainda assim acabei amando essa história. Quando ele quebra aquela caixa que a Lavínia deu eu juro, não tava esperando aquilo. Eu ri alto enquanto uma lagriminha escorria. Tipo, a obra é tão seca e dura em alguns momentos que quando ela fica melosa, o meloso é tão bom de se agarrar. Nossa! Excelente livro. Já quero ler o novo do Marçal que saiu esse ano.