spoiler visualizarFer / Fê / Fefa 16/06/2021
O que acontece, só acontece.
Quando alguma coisa é difícil ou complexa pra mim eu costumo falar, ?isso aqui é punk rock?, uma expressão que na verdade nem tem muito a ver comigo, mas eu acabei adotando.
E pra falar de ?Capão Pecado? imediatamente pensei, ?mano, isso aqui é muito punk rock?, errado, porquê na verdade é mais pra Black Music, que rolava no News Black Chic dos anos 90 no Capão Redondo.
Tinha como uma das minha leituras mais aguardadas pra esse ano e por isso coloquei muita expectativa, não deu outra, em dado momento abandonei a leitura e por algum motivo não quis pegar de volta por toda uma semana.
Estava vindo de leituras onde a estética é quase o âmago do livro. Tinha recém terminado ?O Grande Gatsby?, que como exemplo de escrita posso citar a seguinte frase do livro: ?No crepúsculo encantado da metrópole eu sentia uma solidão fantasmagórica. ?
E me choquei porque ao ler esse livro do Ferréz, retornei para o Brasil, me trouxe de volta para a realidade, com uma linguagem sem firulas, papo reto, direto ao ponto, sem tempo e com muitas gírias, como é na quebrada. Para exemplificar a linguagem direta posso colocar o seguinte trecho:
?O som, antes de ser interrompido pela perfuração à bala, bradou o último verso: ?Não confio na polícia, raça do caralho??.
Onde é citado um trecho de uma música do Racionais sendo interrompida pelo começo de um tiroteio.
E é isso, o livro é explícito, do começo ao fim, é objetivo.
Quando alguém morre ninguém romantiza a vida vivida pelo defunto.
Quando alguém é preso, só apodrece na cadeia mesmo.
Quando alguém comete um crime, ele nos é contado.
O que acontece, só acontece.
Um cara que a gente acompanha e bota fé desde o princípio é assassinado numa cela quase no final do livro.
E é só isso, sem final feliz.
Assim como a vida na quebrada é todos os dias.
As coisas ruins acontecem e continuam acontecendo, nada muda.