Adriana Pereira Silva 09/07/2019
O SILÊNCIO DO TEMPO
Dino Buzzati é um italiano da pequena cidade de Belluno, um local com muita névoa e frio.
Sua obra, um clássico europeu, foi publicada em 1940, tendo sido retratada sob os mesmos olhos da região do autor, tendo uma atmosfera rarefeita.
A história possui uma escrita agradável, fluída, que me prendeu pelo coração e observação de sentimentos.
Buzzati retrata a vida de todos nós, fala da vida como uma aposta na imobilidade.
Conta a vida de um jovem tenente Giovanni Grobo, que é indicado para trabalhar no Forte Bastiani, uma fortaleza nas montanhas, que fica numa zona de fronteira. Ao lado do forte há um deserto. O forte tem a finalidade de guardar de possível ataque dos tártaros, que costumavam chegar invadindo exatamente por esse lugar.
No entanto, os anos vão passando, antes de Grobo chegar, e depois, e nada acontece. Sua vida é baseada na guarda do forte, observando o deserto através dos muros, imaginando e ansiando pelo dia da invasão dos tártaros, destacado pelo grande dia em que um fato notável justificará sua vida.
Com isso, o tempo vai passando e Grobo e seus companheiros não conseguem se distanciar do forte, ir embora, fazendo da esperança do ataque o sentido para suas vidas.
?A uma certa idade, esperar dá mito trabalho, não se reencontra mais a fé de quando se tinha 20 anos...? (p. 63)
Enquanto isso, na vida que deixou para trás, as pessoas vão se distanciando, seguindo suas vidas e Grobo sente-se sozinho, essas pessoas antes tão familiares, tornam-se desconhecidas e distantes devido a sua longa ausência e falta de convivência, nada mais soa como familiar em sua cidade, sua antiga vida.
?É difícil acreditar numa coisa quando se está sozinho e não se pode falar com ninguém.? (p. 106)
?O tempo passou tão veloz que a alma não conseguiu envelhecer.? (p. 109)
?... conservava-se ele... aquele profundo pressentimento de coisas fatais, uma obscura certeza de que o bom da vida ainda estava para começar.? (p. 112)
Assim, a obra nos leva a refletir sobre a vida, sobre o comodismo, a zona de conforto em que a maioria de nós se coloca, deixando os fatos da vida nos paralisar e o tempo ir passando. Quando nos damos conta, a vida já se esvaiu por entre nossas mãos e dela nada fizemos por termos ficado imóveis e sem atitude diante dela, nada deixando de legado.
E isso é muito notório nos dias atuais, ao qual as pessoas ficam tão ocupadas e distraídas com seus problemas, trabalho, tecnologia em mãos, que se esquecem de viver. Esquecem-se que o tempo passa e com ele nós vamos com ele. Ao nos darmos conta, ficamos inertes, sozinhos, sem atitudes, e teremos a sensação de nada termos feito de significante, realizado, deixado nesta terra, tanto em relação a relacionamentos quanto ao material.
Portanto, identifiquei-me profundamente com Grobo, levando-me a refletir sobre como encaramos e vivemos a vida, se a aproveitamos e respiramos profundamente cada momento que temos à frente. Ou se nos deixamos levar pela vida ou sempre estamos enfrentando a zona de conforto para sairmos dela e podermos viver totalmente tudo o que a vida nos reserva, correndo atrás de nossos sonhos e realizando cada um deles.