Invasão Bárbara 06/08/2024
Um Pequeno Herói, Fiódor Dostoiévski
Antes de falar do livro em si, precisamos nos ambientar no contexto em que ele foi produzido. Em meados de 1849, Dostoiévski abandonou de forma abrupta o romance de formação, com ares de Jane Eyre, Nietótchka Niezvânova, ao ser preso por motivos políticos. Na prisão, enquanto aguardava a sentença, escreveu o conto longo Um Pequeno Herói.
Narrado em primeira pessoa, acompanhamos um menino de onze anos, do qual não temos nenhuma outra informação, passando uma temporada na casa de campo de um parente que resolveu dar uma festa interminável para dezenas de convidados que podem permanecer o tempo que quiserem.
Nesse cenário de diversão e alegria, o garoto se sente deslocado por não entender bem as relações entre os adultos e nem seus próprios sentimentos que estão aflorando pela Madame M. Enquanto isso, outra mulher se entretém tratando-o como uma criança pequena, apenas para vê-lo chorar ou perder a paciência.
Ainda sobre a Madame M., ela é uma incógnita para o menino. Ele não compreende por que ela está sempre chorando pelos cantos, melancólica com a partida do N., ao mesmo tempo que evita ao máximo estar perto do marido.
Tal qual nas novelas adolescentes de Stefan Zweig, o heroísmo do rapaz está na perda da inocência, no primeiro contato com a complexidade das próprias emoções e decisões tomadas por impulso, especialmente para proteger ou chamar a atenção da Madame M.
Dois destaques que precisam ser feitos: estamos falando de um livro escrito numa cela, o que dá uma artificialidade angustiante, até desesperada, aos cenários iluminados, festivos e primaveris em que a saga ocorre.
E, mesmo Púchkin não sendo mais citado diretamente, a aura dele permanece presente. Aqui ela surge como uma digressão do menino, ao se perder em pensamentos sobre os convidados esnobes que se julgam profundos quando, na verdade, são só vazios e preguiçosos. (Selo Púchkin-Gogol de Qualidade)
Era isso!
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