Leila de Carvalho e Gonçalves 13/07/2018
Um Por Todos E Todos Por Um
A primeira vez que li "Os Três Mosqueteiros", foi uma adaptação para a coleção infanto-juvenil "Alvorada da Vida", publicada nos anos 60. Muitos anos depois, encontrei a venda a história original e temerosa, acabei comprando. Resolvi encarar a difícil missão de reler, a medida que essa obra marcou indelevelmente o início de minhas leituras e tinha receio de ficar decepcionada.
Ledo engano! Esse folhetim de capa e espada transformado em romance, apresenta personagens marcantes, aventuras arriscadas e um escritor capaz de reunir todos esses ingredientes numa fascinante narrativa. Eis uma leitura difícil de largar, portanto, não leve em conta o grande número de páginas, pois trata-se de um desafio fácilmente vencido.
Apresentando um painel da França absolutista de Luís XIII, seu enredo discorre sobre o mito da amizade conduzido com lealdade e coragem, tornando os mosqueteiros invencíveis. Curiosamente, é o primeiro volume de uma trilogia da qual também fazem parte "Vinte Anos Depois" e "O Visconde de Bragelonne" de onde foi extraída a história de "O Homem da Máscara de Ferro".
Um detalhe curioso, é que os protagonistas, apesar de alçados ao posto de heróis, também possuem defeitos: Athos bebe demais; Porthos extorque dinheiro do marido da amante; Aramis, apesar da vocação religiosa, mantém um caso amoroso; e D'Artagnan além de espancar um servo, vai para cama com uma mulher, estando apaixonado por outra.
Curiosamente, o escritor é extremamente cruel com algumas personagens verídicas que compõem a narrativa. Luís XIII, Ana da Áustria, o Duque de Buckingham e o Cardeal Richelieu agem unicamente movidos pelos seus caprichos, declarando guerras, fechando portos e explorando o povo que, pobre e subjugado, não tem como se rebelar. Na realidade, "Os Três Mosqueteiros" traça uma severa crítica à Monarquia, contando uma história sabiamente ambientada no século XVII e escrita cerca de duzentos anos depois.
Para encerrar, D'Artgnan também foi inspirado numa figura história, Charles de Batz de Castelmore D'Atargnan, pertencente ao Regimento do Rei e citado em inúmeros documentos da época. Tal como ele, siga Athos, Porthos e Aramis em suas aventuras e você terá a opertunidade de descobrir um clássico inesquecível.
Um por todos e todos por um!
Nota:
- A Editora Zahar simboliza qualidade, graças as suas primorosas publicações. Essa edição não foge a regra, comentada, apresenta índice ativo, texto revisado e adaptado à nova Reforma Ortográfica. Finalmente, vale atentar para a belíssima tradução de André Telles e Rodrigo de Lacerda.