Blog MDL 02/07/2016
A história se passa na França do século XVII, na época do reinado de Luís XIII, onde na aldeia de Meung o jovem D’Artagnan está de partida para Paris, onde deseja realizar seu sonho de tornar-se um mosqueteiro do Rei, assim como seu pai já fora. Do D’Artagnan pai, o jovem gascão recebe três presentes (O cavalo, a espada e a carta de recomendação ao comandante dos Mosqueteiros)e parte rumo à sua aventura. A partir daí tramas das mais diversas virão de encontro ao jovem, onde conheceremos diversos personagens como os nobres mosqueteiros Athos, Porthos e Aramis, a misteriosa e fatal Milady, bem com figuras históricas como o próprio Luís XIII, sua esposa, Ana da Áustria e o Cardeal de Richelieu.
Eu sempre gostei da história dos mosqueteiros, mas nunca prestei muita atenção às suas diferenças, ou mesmo a toda a trama que a história trazia, então resolvi mudar isso, lendo a obra original, e que grata surpresa eu tive!
Primeiro ponto que faz Dumas ganhar seu coração, e puxa toda a atenção ao livro, é a caracterização dos personagens. Seja D’Artagnan, como uma visão heroica ao moldes de Dom Quixote, Athos e seu ar nobre e sombrio, Porthos e sua vaidade que faz Dorian Gray parecer humilde ou mesmo Aramis e seu dilema entre servir á Coroa ou à Igreja, Dumas faz com que você se importe e conheça cada personagem, usando páginas e mais páginas dando características singulares a cada um, fazendo o leitor formar a imagem de cada personagem. E não só os protagonistas tem esse direito, pois mesmo as figuras históricas conhecidas e os antagonistas e secundários tem sua caracterização tão bem bolada, que você sabe o que esperar de determinado personagem, ao vê-lo em cena.
Não o bastante os personagens serem muito bem caracterizados, eles próprios são um elemento crucial para essa história magnífica. Dumas não criou meros espectadores de uma história, ou mesmo criou uma história onde heróis são bonzinhos e vilões, criaturas más e pérfidas. Toda a graça da trama está na imperfeição de cada um. Os mosqueteiros são beberrões, extravagantes, egoístas, viciados em jogatina e que não se importam em serem sustentados por suas amantes (algo aparentemente comum na Europa da época).
Athos tem um passado sombrio que não quer revelar, D’Artagnan é apaixonado por uma mulher casada, mas esse “amor puro” não o impede de se envolver com Milady, ou enganar a criada da mesma, Aramis tem uma visão bem liberal da vida para quem quer ser religioso e Porthos, como já comentei, é tão vaidoso que pode ser comparado ao protagonista do romance de Oscar Wilde.. Mas nenhum de seus vícios ou defeitos os impede de exercer bem sua função. É engraçado quando você percebe que uma das batalhas mais cônicas do livro foi, na verdade, originada em um piquenique onde os mosqueteiros e seus servos faziam no campo de batalha, com objetivo de tramar sem que ninguém soubesse.
Mas nenhum personagem, a meu ver, teve um destaque tão importante quanto a Milady. No livro temos diversas mulheres com características que as tornam fortes e poderosas, sem precisarem ser objetivadas, ou mesmo empunhar uma espada e partir para o duelo, mas Milady pode ser considerada um marco nesse quesito. Munida de sua influência e beleza, ela é uma personagem única, pois é astuta e perspicaz como poucos e capaz das mais diversas manipulações para cumprir seus objetivos e salvar-se dos problemas. Ela é uma antagonista que rouba a cena sempre que aparece, a ponto de ter sua atenção quase todo o arco final da história.
Outro ponto bastante bacana é período histórico. O reinado de Luís XIII foi caracterizado por árias guerras contra os huguenotes (protestantes franceses) desde o reinado de seu pai, onde o próprio D’Artagnan pai participou. Mesmo a Espanha e a Inglaterra não tinha uma boa relação com a França, e o rei era conhecido por ser muito dependente de seu primeiro-ministro, o Cardeal. Só que, mesmo com todo esse peso histórico, Alexandre Dumas tinha liberdade em usar essas personalidades históricas a seu bel prazer, sem ficar tão preso ao contexto histórico, pois, como o mesmo falava, ele não er um historiador. Logo temos a imagem do Cardeal com principal antagonista da história, ao mesmo tempo em que um “mal necessário”, pois ele, sua influência e seus homens, eram o que davam robustez aos exércitos franceses, sem falar que seus agentes eram muito extremamente competentes em suas missões (a exemplo da própria Milady).
E, como não pode faltar em um romance com cavaleiros, espadas, capas e reinos em conflitos, temos batalhas. Mas, diferente d’O Rei Arthur de Howard Pyle (já resenhado aqui no blog), onde os duelos acabam sendo algo tão rotineiro e enfadonho, pois o motivo mais insignificante fazia os cavaleiros almejarem partir para o duelo, Dumas descreve com maestria essas cenas e, mesmo os combates iniciados por motivos dúbios acaba se tornando interessantes.
Falando da edições, essa foi uma das primeiras edições comentadas da editora Zahar, que desde aquele tempo já mostrava a que vinha. Seus prefácios nos norteiam sobre o autor e as peculiaridades de sua obra e as notas de rodapé te colocam a par de todas as tramas internas da corte, bem como os fatos que se decorreram das batalhas históricas lá mencionadas.
Ambientado numa época de diversos combates, com personagens carismáticos e bem trabalhados e tramas intrigantes, "Os Três Mosqueteiros" é um romance recheado de aventuras e emoções que, ao mesmo tempo em que vicia o leitor a ler mais e mais, faz o mesmo desejar que a leitura nunca acabe. Essa foi, até o momento, a minha melhor leitura do ano e me fez ficar extremamente empolgado a ler as demais obras desse autor!
E fica aqui o meu apelo: Zahar, lance os outros dois romances dos Mosqueteiros!
site: http://www.mundodoslivros.com/2016/02/resenha-especial-os-tres-mosqueteiros.html