Nath 04/02/2020
Os Mosqueteiros que me desculpem, mas esse livro só deu MILADY
"Ora, vamos, que loucura me exaltar dessa forma", disse Milady consigo mesma, mergulhando no espelho que reflete em seus olhos um olhar de fogo, por meio do qual parece interrogar a si própria. "A violência não resolve nada, a violência é uma prova de fraqueza. Em primeiro lugar, nunca triunfei assim. Talvez, se usasse a minha força contra mulheres, eu tivesse a sorte de contestá-las mais fracas que eu e, por conseguinte, vencê-las. Mas é contra homens que luto, e para eles não passo de uma mulher. Lutemos como mulher então, a minha força reside na minha fraqueza!"
Este foi o meu segundo livro do INCRÍVEL Alexandre Dumas (o meu primeiro foi o favoritaço O Conde de Monte Cristo), mas essa também foi mais uma experiência SENSACIONAL dentro dos mais variados sentidos que a literatura poderia me proporcionar na vida. E agora eu posso dizer sem sombra de dúvidas que o Dumas tornou- se um dos meus autores favoritos da vida. E disparado o meu autor francês favorito!
Como todos bem sabem, o Dumas foi um autor que escrevia unicamente em formato de folhetim e este foi mais um publicado em sua fase mais prolixa no ano de 1844.
Os Três Mosqueteiros é hoje considerado um dos maiores romances dentro do gênero "romance de capa e espada" e um dos mais adaptados por diversas outras mídias como: filmes, peças de teatro, desenhos animados e até outras sequências não autorizadas por outros autores que se apossaram “indevidamente” da história original do Dumas.
O nome de dArtagnan tornou-se hoje sinônimo de coragem e perseverança; e os três mosqueteiros Athos, Porthos e Aramis tornaram-se também um dos maiores sinônimos de amizade, coragem e lealdade.
O romance na verdade é uma grande ficção histórica e uma aventura adulta, usando como pano de fundo uma suntuosa intriga política na Paris do reinado do rei Luís XIII, cujo enredo girou em torno do cerco a La Rochelle (1627-28), e teve como personagens principais o próprio Rei Luís XIII, a rainha Ana da Áustria, o cardeal Richelieu, o amante da rainha o Duque de Buckingham e os nossos quatro amigos mosqueteiros, juntamente com os seus implacáveis vilões; como a maquiavélica vilã Milady de Winter.
E meu Deus, que personagem IN-CRÍ-VEL!!! A Milady mostrou-se uma daquelas vilãs magistrais que a gente odeia amar ou ama odiar, TANTO FAZ, porque quando a mulher finalmente entrou em cima ela apagou todos os outros personagens e reduziu os Mosqueteiros á segundo plano na estória. Tanto que, bem na reta final, quando o Dumas deixou os Mosqueteiros de lado e focou somente na estória da Milady, o ritmo frenético ganhou ares muito mais dinâmicos e eu me vi devorando as páginas até o derradeiro final da nossa amada vilã... E, ah! Que ninguém se engane com a bela aparência meiga e sedutora de Milady, pois até o fim ela mostrou-se uma perfeita femme fatale e uma incrível observadora de extrema inteligente, manipulando friamente os homens e as mulheres e deixando atrás de si um rastro de sangue por onde passava. Nas palavras do próprio Dumas:
"Milady era como um general, que considera conjuntamente vitória e derrota, preparando- se, conforme o andamento da batalha, para marchar adiante ou bater em retirada." (Os Três Mosqueteiros, P.641)
Verdade seja dita, apesar da forte presença "vilãnesca" da Milady, eu senti falta de mais representatividade feminina na estória. Eram tantos os homens poderosos, destemidos e com fortes laços leais uns com os outros que eu me perguntava: "E as mulheres?" Quando não eram mocinhas puras e ingênuas como a namoradinha do dArtagnan, eram mulheres submissas aos padrões impostos pela sociedade da época, como a rainha Ana da Áustria. E a Milady quando apareceu quebrando todo o estereotipo feminino da época, igualou-se, inclusive, aos poderosos homens da estória.
Eu definitivamente não entendi o motivo dessas milhares de adaptações cinematográficas dos Mosqueteiros nunca ter representado a Milady com toda a força que ela apresenta na estória original; e deixando para focar somente na amizade, coragem e lealdade dos rapazes Os Mosqueteiros . Mas, talvez, a resposta esteja justamente aí na pergunta...
Como já dizia a nossa maravilhosa Virgínia Woolf em seu questionador/incrível livro Um Teto Todo Seu:
"Seria mil vezes uma pena se as mulheres escrevessem como os homens, ou vivessem como eles, ou se parecessem com eles, pois se dois sexos é bastante inadequado, considerando a vastidão e a variedade do mundo, como faríamos com apenas um?" (Virgínia Woolf, Um Teto todo Seu)