Kath 02/02/2023
Não foi o que eu esperava, mas vale a leitura
O livro é narrado por um repórter que fez investigações acerca da lenda que permeava a maior casa de Ópera de Paris e afirma: O Fantasma da Ópera existiu. Em seu relato, ele dá depoimentos de testemunhas que entrevistou e provas físicas que conseguiu da existência da sombra que se esgueirava pela casa de Ópera tramando as mais diversas atrocidades e mudando para sempre o destino de um casal.
Tudo começa quando os diretores da Casa de Ópera oferecem uma pequena festa para passar adiante a diretoria que agora ficará nas mãos de outros dois homens, eles passam para esses outros as exigências de uma suposta entidade que "por trás da cortina" (figurativamente falando) é quem de fato comanda a casa. Além de uma taxa mensal que deve ser paga a ele, autointitulado Fantasma da Ópera, o camarim VIP nº 5 deve ser reservado para ele assistir as apresentações. Os novos diretores claramente acreditam ser uma pegadinha dos antigos e deixam claro que não vão compactuar com tal fantasia. Nessa mesma festa está presente o visconde Raoul de Chagny com seu irmão, o conde Philipp e ambos ficam deslumbrados com a apresentação de Christine Daaé, que até então ela delegada ao elenco de apoio e choca a todos com seu desempenho excepcional nessa noite.
A coisa é que, desde a morte do pai, um exímio músico, o brilho de Christine apagou. Ela foi adotada por uma rica senhora para quem seu pai trabalhou e esta incumbiu-se de sua educação, inclusive a musical. Mas a passagem da moça pelo conservatório foi mortiça, sem qualquer tipo de empenho real apesar de sua bela voz. Antes de partir, seu pai prometera que lhe enviaria o "Anjo da Música" dos céus para olhar por ela e eis que, ela revela, este lhe apareceu e treinou-a para atingir o máximo da sua potência como cantora. Ela e Raoul se conheceram na infância, tornando-se amigos, mas o tempo acabou separando-os e, tendo a oportunidade de se reaproximar dela, o visconde tenta se aproximar, mas é repelido pela moça que finge não lembrar-se dele.
Apaixonado, Raoul insiste com Christine, mesmo quando descobre que ela já tem um pretendente misterioso. Qual não é sua surpresa quando, dias depois, lhe chega uma carta da cantora anunciando que fará uma passagem para visitar o túmulo de seu pai no mesmo lugar em que se conheceram na infância. Encarando isso como um convite, o visconde vai atrás dela, e a soprano lhe revela sobre o anjo da música e sua melhora como cantora, mas o rapaz não lhe dá crédito até ver com os próprios olhos a apresentação fantasma no cemitério, algo que ele não soube explicar. Por mais que insistisse em aproximar-se, Christine sempre o repelia, anunciando ser impossível qualquer coisa entre eles, ao mesmo tempo, mostrava-se ambígua em suas atitudes demonstrando, sutilmente, amá-lo.
Quando finalmente lhe revela os terrores que sofreu nas mãos de Erik, o temido "Fantasma da Ópera" que, em verdade, é bem humano, e como ele a enganou se passando pelo anjo da música prometido por seu pai, Raoul tem a confirmação de que ela o ama tanto quanto seu destino parece estar ameaçado e preso ao monstro que se esconde nas profudezas sombrias da Ópera de Paris. Agora, resta-lhes uma verdadeira luta contra o tempo e contra um dos mais perigosos homens que já pisaram a Paris do século XIX.
Confessar para vocês, não foi nada do que eu esperava. Nada mesmo. Quando vi pela primeira vez o filme achei que era uma historinha noir de um triângulo amoroso, é exatamente essa a impressão que as adaptações dão, mas não tem nada a ver com o conceito da obra. Já começa com essa aura gótica do romance que me pegou desprevenida, o fato de Erik ser persa e não o branquelo que é pintado nas adaptações, além de que, quase sempre, colocam um homem bonito com o rosto parcialmente coberto para representar um homem que é tão desfigurado que quase não tem pele no rosto. E mais, embora não conte o motivo, dá-se a entender que ele nasceu desse jeito.
E apesar de ser um exímio músico, na verdade Erik era mágico, um dos melhores e mais sádicos ilusionistas, além de assassino nas horas vagas. Ou seja, isso aqui não é o simples romancinho água com açúcar que tanto a peça quanto o filme pintam. A narrativa, boa parte do tempo, me soou bem desinteressante, especialmente nas partes de Raoul e Christine que eu achava meio enfadonha, apesar da história deles criança e a parte do pai de Christine terem sido bem legais. Contudo, compensa tudo a narrativa do Persa contando a história de Erik. De longe essa é a melhor parte do livro.
Há referências a várias peças de ópera na história, algo que eu gostei muito, embora as adaptações usem sempre as músicas autorais de Weber e não mostrem a Christine com o real potencial vocal que ela adquire graças as aulas de Erik. Também tiraram toda a parte sombria da história dele para reduzir a algo como um incêndio do qual ele foi vítima e isso tira um pouco do brilho quando você lê o livro e descobre a verdade por trás dos fatos, ainda que as músicas da adaptação sejam boas.
Num cômputo geral, gostei do livro. Não foi lá a melhor leitura que já fiz, mas de certo modo foi interessante, especialmente nos aspectos que eu citei. A construção de Erik foi magistral, mesmo sendo um antiheroi ele engole o brilho da narrativa para si sem ser o autor dela. E toda a cadeia que o tornou o monstro que ele é, obsessivo, sádico e brilhante, nos leva a algumas reflexões bem acertadas. Vale muito a pena conhecer a história, depois de ler as adaptações se tornam bem menos encantadoras.