Bia 10/05/2020
Resenha - Vozes De Tchernóbil
Eu não sabia se fazia ou não uma resenha sobre o livro. Não sei muito bem como expressar toda essa experiência de leitura, não sei descrever tudo o que li e o que me fez sentir, simples palavras como: horrorizada, furiosa, triste e pensativa, é pouco para descrever o tamanho de todos os sentimentos que tive durante a leitura e ao finalizar a leitura.
Mas eu vou tentar, e espero poder transmitir a vocês com clareza tudo o que eu pensei/penso sobre as vozes que tentaram calar, das vidas que foram obrigados a deixarem para trás.
As páginas são amareladas, a fonte é okay, e o livro é dividido em várias partes com diferentes temas ou áreas. No final temos o discurso da autora em cerimônia do prêmio Nobel da Literatura (que foi o discurso mais incrível que já li em toda a minha vida!).
O livro é sobre cidadãos de vidas tão similares e ao mesmo tempo tão diferentes, mas no fim das contas todos estavam juntos numa tragédia que toda a humanidade experimentava pela primeira vez e que ninguém sabia o que estava acontecendo, como proceder ou sequer pra onde correr. Svetlana Aleksiévitch nos trás relatos, pesquisas e muito mais, de certa de 10 anos após o desastre, sobre sobreviventes da tragédia de Tchernóbil na fronteira entre a Ucrânia e a antiga Bielorrússia em 26 de Abril de 1986. Foi o maior desastre nuclear de todos os tempos. A proporção desse acontecimento até hoje é desconhecido, e através dos relatos é possível identificar que a população sofreu e ainda sofre muito, desde Stálin e a segunda guerra mundial (que era um meio que "recente" nas memórias de muitas pessoas em 1986) e também com o desastre nuclear que deixou sequelas em milhares de pessoas até hoje. O que aconteceu deixou varias vítimas, pessoas que sofrem até hoje com as consequências da explosão do reator.
A autora coletou/entrevistou diversos testemunhos ao longo de muitos anos sobre os sentimentos das pessoas. O livro é todo contado através das vozes das pessoas envolvidas e afetadas pela tragédia. A vida do antes, durante e depois de Tchernóbil. Aqui temos uma união de vozes desesperadas, raivosas e devastadas de pessoas que sofreram não apenas com a radiação, mas com o antigo Governo Soviético que tentou abafar muito o caso na época e até mesmo hoje em dia, tanto é que não se sabe ao certo quantas pessoas foram afetadas, e na época o povo demorou a acreditar no quanto essa explosão iria afetar suas vidas. A forma como o governo tratou essas pessoas, como o governo solicitou a ajuda mentindo e enganando os “voluntários” e depois os dispensando, pois de acordo com o governo: eles se tornaram inválidos. Doses e mais doses de radiação enquanto eram “voluntários” e depois dispensados com migalhas (mereciam muito mais!), pois se tornavam inválidos. Na época o Governo Soviético era governado por Gorbatchov, que negligenciou todos os fatos e não informou a população para não causar alarde. Sendo assim, o mundo só ficou sabendo do que estava acontecendo após as chamas radiativas chegarem a boa parte da Europa. E isso porque, em época de guerra fria existia o jogo de poder entre EUA e URSS, e a URSS não poderia ser vista como um lugar em que coisas ruins pudessem acontecer.
“[…] A minha filha morreu por culpa de Tchernóbil. E ainda querem nos calar. Dizem que a ciência ainda não comprovou, não há banco de dados. É preciso esperar cem anos. Mas a minha vida humana… Ela é ainda mais curta. Eu não vou esperar. Anote. Anote ao menos que a minha filha se chamava Kátia. Katiúchenka. Morreu aos sete anos.”
O governo tentou tirar muitas pessoas de seus lares. Em alguns lugares (os mais próximos da usina) tiverem que sair mesmo, mas os de outros lugares, outras pessoas, se recusaram a sair da “zona de exclusão” próximo da Usina. Era toda uma vida ali, era a casa deles ali, para onde mais iriam? Svetlana nos apresentou relatos de moradores que escolheram ficar, de como é a vida deles lá, de como as pessoas do mundo todo até mesmo do próprio país os vêem. É intrigante até se parar para pensar... Alguns habitantes descreveram como às vezes são tratados, como quando um jornalista, por exemplo, vai até sua casa e você oferece um copo de água ou qualquer outra bebida e ele se recusa a beber, pois aquela água está contaminada. Tudo ali está contaminado, tudo é radiação ali. Mas se pararmos para pensar, ouvi esse exemplo no Resenhando Sonhos e achei legal citar aqui como uma forma de explicar melhor, por mais “frio/sem educação” que tenha sido a ação da pessoa ao recusar uma água, de certa forma (pro lado mais frio) ele estava se protegendo ali, porque aceitando ou não aquela água realmente estava contaminada.
A perda de muitas famílias, não apenas pelas pessoas próximas, mas pelas casas. Tchernóbil foi evacuada e até hoje é inabitável. A cidade fantasma; a cidade morta.
“Nós perdemos não a cidade, mas a nossa vida inteira.”
Uma das coisas que mais me comoveu foi o primeiro relato: o de um casal que estava lá, pertinho do local. Tinham acabado de se casas, estavam começando uma vida juntos, o marido era bombeiro e assim que ouviu a explosão foi ajudar sem saber o que era e do que se tratava (os bombeiros chamados para combater o incêndio não faziam a menor ideia da proporção do que estava havendo. Muitos morreram na hora, ou definharam por cerca de 14 dias até a morte). A esposa estava grávida e quando o marido ajudou por longas horas, ele foi levado para Moscou para ser tratado por conta das altas doses de radiação... Foi muito triste a história, muito agonizante e tocante. Já logo no inicio do livro eu fiquei sem reação, fiquei chocada e me sentindo mal, pois temos detalhes de muitas feridas graves. É um livro pesado de diversas formas: os sentimentos de todos os relatos, as perdas, a gravidade do acontecimento, o erro do governo e as escolhas que eles tomaram para proceder com tudo isso, etc.
“[...] Estão morrendo, e ninguém lhes perguntou de verdade sobre o que aconteceu. Sobre o que sofremos, o que vimos. As pessoas não querem ouvir falar da morte. Dos horrores…
Mas eu falei do amor… De como eu amei[...]”
Eu acreditava que essa seria uma leitura muito arrastada. É o primeiro livro que leio do gênero, e esse tipo de livro não me chama a atenção, pois simplesmente não me prendem, não fazem meu tipo. Mas eu fiquei curiosa sobre Tchernóbil e quando vi o livro eu decidi me arriscar, pois eu queria entender melhor, saber mais, então a curiosidade falou mais alto. A leitura felizmente não foi arrastada em nenhum momento, o que foi uma surpresa para mim. Li em menos de uma semana, simplesmente devorei o livro. Eu não favoritei o livro, pois simplesmente não consegui... Não sei explicar, mas eu amei o livro. Eu fiquei animada em ler outras obras da autor, já até coloquei na lista alguns livros.
Fiz uma leitura conjunta com uma amiga, pois nós duas estávamos curiosas e em busca de informações, então decidimos fazer essa projeto pessoal de leitura conjunta para debatermos sobre nossas opiniões e sentimentos com relação à leitura.
Ainda não assistir a série, mas estou pra começar. Gostaria de estar postando essa resenha juntamente com a minha opinião sobre a série descrita aqui também, mas como é incerto exatamente quando irei assistir, não queria deixar essa resenha guardada por muito tempo.
"A culpa é da radiação ou de quem? Como ela é? Ela é branca? De que cor? Uns contam que não tem cor nem cheiro, outros contam que é negra. Como a terra! Se não tem cor, é como Deus: está em todo lugar, mas ninguém vê."
site: http://biiabrito.blogspot.com/2019/08/resenha-vozes-de-tchernobil.html