Hels 28/07/2014Ela era só uma garota...Escrito em 1974 e tendo seu manuscrito em uma lata de lixo, Carrie foi o primeiro romance do autor mundialmente conhecido, Stephen King. Se dependesse dele, este livro jamais teria sido publicado, já que ele não gostara do resultado que a história teve. Fora sua esposa que tirou as folhas do lixo, lera e o fizera ir atrás de um editor para a publicação, levando a história e o nome de seu marido ao sucesso.
SINOPSE:
Carrie pode ser a excluída em meio aos seus colegas de sala, mas ela tem um dom. Ela pode mover coisas usando sua mente. Portas se fecham. Velas se apagam. Este é seu poder... E seu problema. Então, em um ato de bondade, tão espontâneo quanto a provocação viciosa de seus colegas, é oferecido à Carrie a chance de ser normal... Até uma inesperada crueldade tornar seu dom em uma horrorosa arma de destruição que ninguém jamais esquecerá.
RESENHA:
A noite de 27 de Maio de 1979 para a cidade (fictícia) de Chamberlain, Maine, não poderia ter sido pior. Uma noite de terror, em que a cidade toda fora destruída, deixando alguns sobreviventes mas levando a maior parte de seus moradores: adolescentes em seu Baile de Formatura. A causadora e "culpada" de tudo isso? Carrie White, uma adolescente de 17 anos. Mas será mesmo que ela é a culpada?
(No livro, diz que sua idade é 17, mas se fizermos as contas, a idade correta seria que ela tivesse 15 anos e faria 16 em '79).
Nascida em 21 de Setembro de 1963, Carrie veio a mundo considerada como uma maldição na vida de sua mãe, Margaret White. Dando a luz a uma criança depois de seu marido já ter falecido e religiosa fanática (elevado ao infinito), Margaret se odiou a partir do momento que viu a filha, vendo-a como uma lembrança dos pecados que cometera. Para a senhora White, todos os pequenos detalhes da vida que vemos como algo normal são vistos como provas de que a pessoa (mulheres, principalmente) teve um pecado. Ter seios? Já é pecadora. Menstruação? Nah! Isso é chamado "maldição do sangue", só as mulheres pecadoras a recebem. Incrível, não?
E por falar no desafortunado evento que toma parte na vida das mulheres todo santo mês, este é exatamente o começo do livro: Carrie White virando "mocinha", com uma ingenuidade sem tamanho e sem informações sobre isso por parte de sua mãe, ela acha que está sangrando até a morte. Era claro que isso só faria as meninas fazerem mais piadas, zoariam-na e tornariam algo que já não é um mar de rosas em um evento ainda mais traumático.
Ah! Se elas soubessem o monstro que elas, em conjunto com Margaret White, criaram. Tendo o gene TK, que lhe dá o dom da telecinesia, Carrie está longe de ser uma garota normal. Ela pode ser ingênua, quieta, mas não significa que ela não queria ser normal, ser aceita socialmente, ir ao baile...
E a questão central do livro é isso: o Baile de Formatura, em que Tommy Ross, a pedido de sua namorada, leva Carrie e tudo desanda, trazendo tragédia à cidade. Sue Snell, pelo fato de não ser exatamente "má" e ter uma consciência a ser limpa para ser feliz, pede a Ross que leve Carrie ao baile para que isso acertasse o fato de que ela fora uma das garotas que tornara a primeira menstruação da vítima ainda pior. Nas partes que cabem ao seu ponto de vista, ela expõe que não foi por egoísmo e que chegara a ficar com ciúmes e insegura, mas ela acreditava no bem maior que isso faria.
Com cenas extremamente bem descritas, é possível imaginar e sentir muitas das situações. Um bom exemplo é quando Carrie confronta sua mãe. A narração onisciente é intercalada com pensamentos da própria personagem e é fácil sentir o que ela sente. Outro exemplo é a humilhação pela qual ela passa no baile: a cena do banho de sangue (de porco). Essa cena é descrita de três maneiras e pontos de vista diferentes (de Carrie, dos mal feitores e da plateia); seria impossível que você não se conseguisse enxergar tudo com três pares de olhos diferentes.
Numa mistura de narração dos fatos em ordem cronológica e trechos de notícias, depoimentos, livros e pesquisas que foram feitas depois da tragédia de Chamberlain - tanto sobre o evento quanto sobre a própria Carrie -, este é um livro que deixa em aberto para que o leitor defina quem foi o culpado de tudo: Carrie (a mais apontada pela cidade, por ter sido quem a dizimou), as garotas que cometeram bullying contra ela (e todos os seus agregados) ou Margaret White?
(A minha opinião? Culpa da mãe. Porque, para começo de tudo, foi ela quem isolou a filha daquela maneira e já a via como um monstro e uma maldição. O que esperar de uma pessoa assim?)
Uma das minhas passagens favoritas é um recorte do livro que Sue Snell escreve depois do acontecimento em Chamberlain. Sendo uma das sobreviventes e suspeita de ter ajudado a causar maior discordia, ela defende Carrie White:
"ESSA É A GAROTA QUE VOCÊS CONTINUAM CHAMANDO DE MONSTRO. QUERO QUE VOCÊS MANTENHAM ISSO FIRME EM SUAS MENTES. A GAROTA QUE FICARIA SATISFEITA COM UM HAMBÚRGUER E UMA CERVEJA BARATA DEPOIS DE SEU ÚNICO BAILE DE FORMATURA, PARA QUE SUA MÃE NÃO FICASSE PREOCUPADA..."
Gostei mais deste livro do que imaginei que gostaria. Sério.
site:
http://permanentsober.blogspot.com/2014/07/ela-era-so-uma-garota.html