Fernando Lafaiete 14/02/2018Nevernight: 3 Visões diferentes do mesmo livro.#Leituraconjunta2 #AmigosdoSkoob (A primeira resenha de leitura conjunta que postei foi a de O Feiticeiro de Terramar, caso alguém tenha curiosidade de lê-la.)
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Minha opinião
Minha nota: 4
Nevernight, Dark Fantasy escrita por Jay Kristoff é o tipo de fantasia que me agrada. Uma protagonista feminina forte, uma história movida pelo desejo de vingança e cenas brutais de violência.
Nesta história, o autor irá nos apresentar Mia, uma garota que acaba sendo testemunha da execução do próprio pai e posteriormente do sequestro da mãe e do irmão. Após conseguir fugir e evitar assim de ser também assassinada, a protagonista descobre possuir o dom de controlar as sombras. Com a intenção de se vingar das pessoas que tanto odeia, a personagem resolve ir atrás de uma organização conhecida como Igreja Vermelha, que nada mais é do que uma escola de assassinos.
A escrita de Kristoff é muito boa (muitas vezes poética) e os elementos macabros da história juntamente com os sistemas de magia são bem inseridos e na minha opinião muito bem trabalhados. A narrativa é repleta de personagens assustadores e poderosos.
O autor é claramente um leitor assíduo e um nerd nato. Nevernight é repleto de referências às Crônicas de Gelo e Fogo, à jogos de RPG e à Harry Potter. Devo reforçar mais uma vez: Existem cenas de tortura e de desmembramentos.
O que não me agradou?
Alguns diálogos destoam demais da ambientação e de toda a violência da narrativa. Apesar de ser um livro YA, existem alguns momentos bem adultos e alguns diálogos que muitas vezes me incomodaram por apresentarem uma indecião por parte do autor.
Existem também milhões de notas de rodapé, sendo várias delas imensas e completamente desnecessárias. Não entendi este artifício narrativo e sinceramente? Se estas notas não estivessem aqui, não fariam diferença. Existe também um pseudo-romance e o personagem masculino não me agradou. Senti a todo momento que ele estava perdido. Um personagem deslocado, muito humano, mas que me desagrada por demorar muito para entender que está em uma escola de assassinos e não no Paraíso. Um romance descartável que foi inserido apenas para trazer peso para os momentos finais da história.
O que dizer do final?
Os últimos capítulos são excelentes!! Cheios de reviravoltas, de ação e deixa um gancho espetacular para o próximo. Estou ansiso para continuar lendo esta série e indico demais para quem assim como eu adora Dark Fantasy.
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Opinião do Lucas
https://www.skoob.com.br/usuario/1296021-lucas
Nota: 4
O livro possui vários problemas, em sua maioria clichês YA, mas que não foram suficientes para fazê-lo perder mais de uma estrela na minha avaliação.
Primeiro, (li na língua inglesa, portanto, não mencionarei adaptações e outros problemas de tradução, exceto um, em breve) a escrita do autor é muito boa; no entanto, ele abusa de repetições a fim de criar efeito que na minha opinião, não passa de um vício desnecessário. Se pego no pé de Patrick Rothfuss (outro que escreve muito bem) por abusar de advérbios, no caso de Jay Kristoff, será por isso.
Ah, os clichês de YA!! Sério que os jovens precisam mesmo dessas coisas estúpidas nos livros voltados para eles? Acredito que autores, editores e ditoras teimam em enxergar a verdade. Adolescentes não são tão rasos e são capazes de pensar; não precisam que todo livro seja construído em cima das mesmas coisas. J. K. Rowling é um exemplo de como abordar temas sérios para o público jovem. Mas os novos autores teimam em não aprender.
Tudo bem, entendo o romancinho (e o fogo na cueca e nas calcinhas desse público), o problema é quando a pieguice te acerta um soco na fuça e parece que virou foco do livro. Não criemos pânico, fica a dica. Contudo, a desconstrução vem em um momento em que muitos dos leitores podem já estar de saco cheio.
E tinha que haver a rival... claro... por que não!?
Outra questão importante: os adultos são frios em torno dos mais jovens (se bem que considerando o mundo real, não está muito diferente da realidade). E não me venham com papinho de "assassinos" - quem defende esse argumento está precisando de socos de psicologia na fuça (sim, falo especialmente de vocês, fãs que dão chilique quando alguém critica o que gostam). É meio triste ver que somente a Mia é genuinamente capaz de sentir empatia.
E haja exageros!! Todo o lance com sangue... Elementos que mostram como a sociedade desse mundo é podre. Era para chocar? - Tenho pra mim que se você está disposto a mencionar certos absurdos, tem de estar disposto a estudá-los e discuti-los. Atentem-se a Seven Flavors (puro exagero; choque) e ao Hush ("Shiu"? Sério Brasil?).
Para esses assuntos, Jay mostra-se longe de chegar aos pés de George Martin e Stephen King. Se a escrita é boa, ele falha na capacidade de argumentar a respeito do mundo criado. Não precisa ser raso, o público YA não é burro.
E céus, os diálogos bobos!! Piora quando os adultos possuem diálogos mais preguiçosos. E as notas de rodapé? Talvez seja o maior problema do livro. Deixam a leitura lenta, muitas vezes é uma piadinha e revela a preguiça do autor, ou a incapacidade de contar certas coisas durante a trama sem prejudicar o leitor. "Gentlefriends."
Pois bem Lucas, você aponta tanta coisa e ainda dá 4 de 5 estrelas? - Sim... Poque o livro tem outra característica (além da escrita) que se destaca entre os problemas. Mia exerce o seu papel de protagonista muito bem. É cativante, conduz a trama e é humana. E embora haja uns "mimimi" adolescentes no começo (e noutros momentos), ela fica ciente de quem é como indivíduo. Antes ela sabia apenas o que queria.
Também não vou argumentar contra a trama de vingança. Pois embora reutilizada à exaustão na literatura, cinema, jogos... ela cumpre o seu papel primordial; faz Mia sair do ponto A. É a motivação dela. E ela evolui.
A magia não é exagerada nesse mundo, o que é positivo. Diferencia o livro um pouco das outras fantasias populares.
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Opinião da Phanie
https://www.skoob.com.br/usuario/1899632-ari-phanie
Nota: 3.5
Nevernight não é ótimo, mas não é terrível, e definitamente é um YA diferente daqueles a que li ultimamente. A escrita é envolvente e o plot em si é um chamariz: A garota que vêEu sua família assassinada; escapa da morte certa, cresce e vai à procura de vingança (pensou na Arya? Me too.) Não é original, mas tem seu apelo. E ao conhecer a história, a protagonista e o mundo criado por Jay; você consegue apreciar aquilo tudo. A Mia é uma personagem fodona, o mundo é estranho, sombrio e imaginativo (me levou a imaginar uma Camorr mais trevosa) e a ideia de uma escola onde se ensina a arte de assassinar parece bem intrigante. Tudo muito legal, mas agora vem os problemas. Primeiro; dafuq são aquelas notas de rodapé? Diante da primeira vc pensa: "legal, o autor vai explicar os babados aqui", daí quando chega a quinta você começa a perceber que elas tem apenas o poder de diminuir seu ritmo e na maioria das vezes só estão ali para fazer alguma piada que só o autor achou engraçada. E quando há informações que podem ser utéis de verdade, elas são mais extendidas do que o necessário. Não sei o que o autor quis com essas notas, mas claramente falhou. Segundo; eu criei uma expectativa danada pra ver o que aconteceria naquela Igreja-escola-imitação-da-Casa-do-Preto-e-Branco e esperei que as aulas fossem ser bem mostradas e focadas. Mas o autor não quis e ao invés disso, focou no sexo hiper descritivo entre os personagens principais. As raras vezes em que ele resolve levar os leitores pra dá um rolê pela Montanha dos Assassinos, não são suficientes para amenizar nossa curiosidade sobre o lugar. Ou sobre algumas aulas. Eu amei a aula da saidii Mataranhas (a versão feminina de Snape) sobre venenos, mas em 600 páginas, ela foi mostrada apenas uma vez, como todas as outras. Fala sério, Kristoff. Terceiro; os personagens são problemáticos. Fora a Mia, nenhum deles tem espaço para desenvolvimento. E o pior, ele criou um grupo de personagens super interessantes sobre os quais você vai querer saber mais. Mas provavelmente não vai. Quarto e último; o livro tem 600 páginas e ao final dele você continua sem respostas sobre o que de fato é a Mia, qual a extensão dos seus poderes, e por que ela os tem. E no final só surgem mais perguntas. Mas se tratando de uma trilogia, isso não conta tanto porque esses mistérios vão ganhar espaço na continuação.
Confesso que até a metade do livro estava bem mais empolgada do que com a parte final. Provavelmente porque apreciei mais as partes que Mia ainda não havia chegado na Igreja ou estava fora dela. E também a pausa de alguns dias na leitura pode ter sido prejudicial. Apesar de todas as boas reviravoltas, ainda não me decidi se vou investir na continuação, mas foi sem dúvida uma boa leitura. Pra ler sem pretensão e muitas expectativas.
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Considerações finais: Diferente do Lucas e da Phanie, não considero os aspectos de construção de mundo e determinadas cenas como exageros. São elementos pertinentes (na minha opinião) para um livro de Dark Fantasy. São coisas que curto ler e que espero encontrar em um livro do gênero. Cenas de sexo em livros de fantasia são irrelevantes para mim e nisso concordo com o que a Phanie citou. O livro tem de fato muitos clichês, mas se irá ler um YA, já se prepare para os mesmos, pois é difícil um livro deste "gênero" (se é que posso chamar assim) não possuir clichês que são inseridos para agradar o seu público alvo. Apesar de achar um pouco sem noção reclamar de algo que faz parte de livros deste tipo (mesmo também vivendo reclamendo dos mesmos), concordo com o Lucas que já passou da hora disso deixar de ser considerado uma obrigação por parte dos autores. Não pulem as notas de rodapé, mesmo muitas delas sendo um saco. Muitas dessas inserções narrativas trazem explicações de peso sobre o mundo criado por Jay Kristoff. Conforme a Phanie citou, de fato não é um livro perfeito; mas vale a pena a leitura. Espero que nossas opiniões possam ajudá-los de alguma maneira.
Nota conjunta (somei as 3 notas individuais e dividi por 3): 3.83 (Sintam-se a vontade para arredondarem para 4.